Por Sebastian Watenberg, presidente da Federação Israelita do RS e Jorge Terra, presidente da Comissão Especial Nacional da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB/RS
Neste ano, alunos de uma escola de Porto Alegre "venceram" um concurso de fantasias utilizando caracterizações de um "escravizado" e de um "senhor de escravizados". Aliás, em outra ocasião, alunos de uma escola do interior do Estado se vestiram tal como nazistas para falar sobre a Alemanha. Havendo ou não intenção, os dois fatos foram considerados ofensivos para comunidades que sofreram brutal violência durante o holocausto ou durante o comércio transatlântico de pessoas e a inerente escravização.
O racismo, o antissemitismo, o preconceito e os estereótipos raciais estão baseados em falsas hierarquias que são mantidas pelo desconhecimento e pela disseminação de informações equivocadas. Fatos como os mencionados legitimam o protesto pelo cumprimento de leis antidiscriminatórias solenemente ignoradas nos âmbitos público e privado.
O artigo 26-A da LDBEN obriga que escolas privadas e públicas de ensinos Fundamental e Médio, no Brasil inteiro, ensinem as histórias e as culturas indígenas e afro-brasileiras. A lei nº 10.965/2010, do município de Porto Alegre, obriga o ensino sobre o holocausto na disciplina de História em toda a rede municipal. O ponto é que a escravização e o holocausto nem deveriam depender de leis para que fossem estudados, mas, mesmo sendo objetos de leis, não são sistematicamente abordados. Já que o conhecimento é o primeiro passo para a mudança comportamental, estaríamos permitindo a banalização dos fenômenos raciais?
Embora se vincule o holocausto na Alemanha nazista à Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), ele se iniciou em 1933, sem a intervenção efetiva da população local ou de outros Estados. Isso força a pensar sobre o que fazemos com as notícias sobre a existência de grupos neonazistas em nosso país e com as recorrentes informações sobre o expressivo número de negros que são mortos com armas de fogo ou que se suicidam no Brasil. A busca por explicações para opressões como a escravização e o holocausto deve ser constante embora ambos sejam injustificáveis. Devemos aprender a respeitar as diferenças e não nos sujeitarmos a nenhum tipo dos fenômenos raciais. Para isso, melhor ficarmos vigilantes diante de atos discriminatórios, pois nenhum ser humano é indigno de zelar pela livre escolha de ser quem é ou de propagar a sua fé.