Por Adalmir Marquetti, professor de Economia da PUCRS
O Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, é o mais importante encontro de debate sobre a realidade econômica mundial. O evento reúne líderes e apoiadores de um capitalismo global em que a livre mobilidade de capital e o comércio internacional trariam o crescimento da renda e do bem-estar mundial. A fala do presidente Jair Bolsonaro era fortemente aguardada por ser o seu primeiro discurso internacional e pelo não comparecimento das principais lideranças políticas mundiais. A agenda doméstica impossibilitou a presença dos líderes políticos dos Estados Unidos, China, Índia, Reino Unido e França.
Com o papel de abrir o Fórum, Bolsonaro fez um discurso rápido em que enfatizou muitos dos temas de sua campanha. Em termos econômicos e, em particular, em relação aos movimentos do capital e do comércio, a sua fala está em pleno acordo com o ponto de vista dos participantes deste encontro mundial. Houve menção ao compromisso do governo de promover uma abertura comercial; do Brasil seguir alguns dos padrões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE); a atração de capitais internacionais com o processo de privatização e melhora das regras para fazer negócios e ao aumento da atração de turistas. O presidente também mencionou a compatibilidade entre preservação do meio ambiente e do agronegócio, fator importante para as exportações brasileiras. Contudo, não houve nenhuma proposta concreta sobre como irão ocorrer essas reformas.
A principal referência às relações internacionais foi que essas não terão conteúdo ideológico. Isso contrasta com muitos dos comentários do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que tem sido alvo de críticas. Com a exceção dos Estados Unidos, não há clareza sobre como serão as relações comerciais com os nossos principais parceiros comerciais.
Em resumo, o discurso tocou em pontos gerais sobre a posição do novo governo e que vão ao encontro do ponto de vista dos participantes do Fórum. Bolsonaro tinha o palco montado para mostrar que sabe aonde quer chegar e o caminho a percorrer. Não se pode depreender isso de sua fala em Davos.