Por Gabriela Ferreira, líder de Impacto Social do Tecnopuc e diretora técnica da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
A imprensa, inventada por Gutenberg por volta de 1430, é considerada uma das maiores inovações da era moderna. Para além do mecanismo dos tipos móveis, capaz de reproduzir manuscritos em minutos, o reconhecimento se deve ao seu impacto. Com a possibilidade de imprimir obras em escala, o conhecimento contido nelas foi se espalhando e garantiu a evolução da educação, da ciência e da tecnologia de forma ampla.
Hoje, quando inovação é palavra da moda, assistimos a uma crise sem precedentes na indústria do livro, e muitos acreditam que ele está com os dias contados. Mas o que, de fato, está em crise? De acordo com dados da BookMap.org, o mercado editorial mundial alcançou os 122 bilhões de euros em 2017, superando o de música e o de games. O ranking é encabeçado pelos Estados Unidos, com 30% do mercado mundial, e seguido pela China, com 17%. Depois desses, só figuram individualmente Alemanha, Japão, Reino Unido e França, responsáveis por algo entre 8% e 4% do mercado cada um. O Brasil ocupa a 13ª posição, no grupo do “resto do mundo”. No país, após um período de redução, houve aumento de 15% em 2017 e de 14% só no primeiro trimestre de 2018. Como se justifica, então, o fechamento das livrarias? Certamente há vários fatores envolvidos no atual cenário de incertezas. O livro vai mesmo acabar? A crise é do produto ou do setor? A grande mudança é o e-book ou o comércio eletrônico? As pessoas não leem ou precisamos de modelos mais eficientes de varejo? Nos EUA, por exemplo, além do crescimento da gigante Amazon (o que, aliás, também acontece por aqui), as livrarias independentes estão florescendo.
É fundamental entender o contexto de transformação do mercado, causas e implicações econômicas para buscar saídas. Mas é crucial saber o que significam as mudanças e o que é inegociável. E me parece claro o que é necessário defender: o livro como veículo do conhecimento, ponte para o saber, instrumento de evolução humana. Seja ele físico ou digital. Talvez nada substitua a experiência de cheirar as páginas de um livro. Mas quem duvida de que a tecnologia trará aromas para o digital?