Por José Luiz de Araújo Aymay, advogado e mestre em Direito Público
Ariano Suassuna, que fisicamente nos deixou em 2014, não partiu sem antes nos presentear com belíssimas obras. Foi dramaturgo, poeta, ensaísta, professor e, acima de tudo, brasileiro. Afirmava: não troco meu "oxente" pelo "ok" de ninguém. Essa forma simples e profunda de expressar o mundo é traduzida em suas obras. Há como visitá-las na internet.
Aqui darei destaque para o personagem que nos será muito útil ali na frente. Isso porque no futuro teremos de explicar para as nossas crianças como foram as eleições presidenciais de 2018. Não será nada fácil dar algum sentido lógico ao que estamos vivendo.
Como explicar que colocamos no segundo turno aquele candidato reconhecido por ser machista, racista, homofóbico e aquele outro que representa um ex-presidente encarcerado por alegados crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro?
De que forma explicar que o ex-presidente do BankBoston, do Banco do Brasil e também ex-ministro da Fazenda, que após ter investido R$ 54 milhões em sua campanha, fez menos votos do que o bombeiro militar cujo investimento foi de apenas R$ 808?
Soarão duvidosas as explicações sobre essas e outras tantas questões.
Mas talvez Deus seja brasileiro mesmo. Fez nascer no nosso Nordeste aquele cabra da peste que abrilhantou a literatura: Suassuna.
Esse arretado escritor foi o criador do personagem Chicó, na obra O Auto da Compadecida. Esse personagem é dono da célebre frase que nos servirá de refúgio explicativo no futuro: não sei, só sei que foi assim.
Os especialistas políticos de plantão andam feito protótipos de estagiários. A cada 10 chutes opinativos, vangloriam-se por um meio acerto que, na verdade, também é um meio erro!
Do jeito que as coisas andam, não troco o Chicó por nenhum especialista!
Agora, se não gostares do referido personagem pelo fato de ter sido construído por um cidadão nordestino, então te sugiro a filosofia socrática. Assim, quando fores questionado sobre as eleições de 2018, profira com ar de intelectualidade: só sei que nada sei.
O fato é que a política virou uma espécie de ônibus lotado, em que todos ficam se acotovelando para conquistar mais espaço. Por quê? Não sei, só sei que é assim.