Por Luciano Z. Goldani, professor titular de Infectologia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
A vacinação é uma das intervenções mais importantes em saúde pública. A partir da descoberta da vacina contra varíola por Edward Jenner (1798), o pai das vacinas, várias vacinas se tornaram disponíveis. No início dos anos 1970 e 1980 ocorreu um grande incentivo e interesse no desenvolvimento de vacinas e hoje, em pleno século 21, podemos contar com vacinas licenciadas contra aproximadamente 27 agentes infecciosos e muitas outras sendo pesquisadas. Infelizmente, estima-se que 20% das mortes entre crianças menores de cinco anos ocorrem devido a doenças evitáveis por vacinas atualmente licenciadas, principalmente em países pobres.
O objetivo da vacinação é proteger todos os indivíduos que estão em risco de desenvolver uma determinada doença. As crianças, os idosos, os indivíduos imunocomprometidos, as pessoas que vivem com doenças crônicas como diabetes, doenças reumáticas, pulmonares, renais e cardíacas.
O Brasil possui o elogiado Programa Nacional de Imunização, que foi criado no país em 1973, que sistematizou e intensificou a vacinação gratuita em todo o país. A vacinação é realizada rotineiramente levando em consideração o calendário nacional de vacinações, com aplicação das vacinas desde o nascimento da criança, respeitando o referido calendário.
Infelizmente, a cobertura vacinal está em queda no país nos últimos anos. A redução de pessoas vacinadas cria bolsões de indivíduos suscetíveis a doenças antigas e controladas no país. Em 2016, o país registrou a pior taxa de imunização dos últimos 12 anos: 84% no total, contra meta de 95%, recomendada pela Organização Mundial de Saúde. As causas são as mais variadas. O nosso modelo de atenção à saúde prioriza as condições agudas de saúde de demanda espontânea em detrimento da atenção primária à saúde, que privilegia a promoção da saúde com a continuidade do cuidado dos indivíduos. Problemas com o abastecimento de vacinas essenciais e o aumento de municípios com menos recursos financeiros para gerir os programas de imunização também são apontados como fatores importantes. Outra questão importante é o crescimento dos movimentos antivacinas alimentados por informações não científicas, principalmente nas redes sociais. Apesar dos inúmeros estudos científicos demonstrarem a eficácia e a segurança, cresce o número de pessoas que se recusam a vacinar seus filhos, fomentando movimentos que podem ser responsáveis pela volta de doenças importantes, como o sarampo e a poliomielite. Nesse sentido, é preciso aumentar a circulação de informações qualificadas e cientificamente comprovadas, aproveitando a comunicação de massa entre pais, jovens e crianças nas escolas e comunidades.
O mecanismo que faz com que vacina seja importante é a prevenção e não podemos abrir mão desse importante avanço da ciência na história da humanidade. Precisamos estar atentos para atuarmos de forma rápida e eficaz nos fatores responsáveis pela diminuição das taxas de vacinação no país para não retrocedermos e enfrentarmos consequências graves.