Por Léo Voigt, Cientista Social
Existe uma árvore, há tempos, completamente morta no coração de Porto Alegre. No lugar mais envaidecido da cidade, que nos faz orgulhar da metrópole; lá onde houve mais investimento público, mais tradição, mais história, há um corpo arbóreo insepulto. Em todo Estado do Rio Grande do Sul, no ponto que mais concentra e circulam autoridades de todos os calibres, está abandonado um patrimônio vegetal sem valor, sem beleza, sem utilidade, sem fotossíntese. Em breve ela será fossilizada pelo descaso, se não tiver a contribuição dos cupins, depositada ao lado de um monumento que festeja 160 anos de vitalidade, sobrevivência, cultura e luta contra cupins.
A árvore seca é uma contradição nessa moldura. Mas resiste em pé, embora moribunda entre o Theatro e o majestoso da Justiça, na praça da Matriz. Não bastasse ser o lugar mais poderoso da cidade, a árvore morta ainda se localiza em frente, em diagonal, à importante Biblioteca Pública do Estado. De que serve tanto conhecimento acumulado, tanta beleza arquitetônica se o entorno não é cuidado; se o saber não gerou zelo?
Se pensas ir ao Palácio Piratini, ou ao Palácio Farroupilha.... Se vieres do Centro Histórico pela ladeira, rumo a Catedral Arquidiocesana; se quiseres chegar no Forte Apache, ao Solar Palmeiro ou dos Câmaras, ou o Alto da Bronze, terás que encarar nosso descaso, o descuido urbano, o abandono ecológico e a ausência de gestão na cena de uma árvore que jaz sobre o passeio púbico. Talvez deva desabar sobre os transeuntes para que providenciem a remoção, o sepultamento.
E nós não nos importamos que uma árvore morta (certamente por erva de passarinho) não seja substituída por um novo desejo paisagístico, em pleno Centro Histórico, da histórica cidade, de orgulhosa população, de cidadania participante, da decantada leal e valorosa cidade Alegre. Imaginem o que sobra de cuidado, de atenção, de zelo e manutenção ao resto do patrimônio arbóreo, localizado fora dos lugares tenentes? Distante do centro turístico, espraiado nas ruas, vielas, parques e praças, escondidas do olhar oficial, da observação residente, do zelo ecologista e da percepção e iniciativa do cidadão regular? Será que o gestor do Theatro deverá observar esse luto e providenciar as exéquias?