O tiroteio registrado no fim de semana no bairro Cristal, em Porto Alegre, quando policiais foram recebidos a tiros por criminosos durante uma operação de patrulhamento, chama a atenção para o crescente poder de fogo e desenvoltura de quadrilhas com atuação na cidade. Esse tipo de episódio serve de alerta para o risco de o quadro de horror registrado há algum tempo no Rio de Janeiro ser replicado também no Estado. A banalização dos confrontos armados faz com que, hoje, balas perdidas, tiroteios e assaltos à mão armada estejam no topo das preocupações dos moradores do Rio, independentemente dos bairros nos quais moram ou transitam. É preciso impedir que essa situação se reproduza também no Rio Grande do Sul.
A história mostra que práticas de crime com início no Rio acabam se difundindo para outros Estados. Desde os assaltos a ônibus nos anos 80 ao crime organizado em facções dos 90, a violência não para de recrudescer de diferentes formas. Agora, manifesta-se predominantemente sob a forma de tiroteios que paralisam setores inteiros da cidade e vêm se firmando como um novo degrau do horror. Esse mais recente patamar está associado ao agravamento das dificuldades financeiras do poder público, que levaram alguns dos mais importantes Estados à insolvência.
De janeiro a abril deste ano, levantamento feito pelo aplicativo Fogo Cruzado registrou 1.751 casos de tiroteios no Rio. O detalhe é que esses confrontos à bala já não se restringem a um ou outro bairro da cidade. Embora estejam mais concentrados em algumas regiões, os registros de casos estendem-se hoje à maioria. E, o que é particularmente ainda mais assustador, envolvem armamento de guerra, muitas vezes em proporção até mesmo maior do que a registrada em países às voltas com conflitos bélicos.
Nem no Rio de Janeiro e muito menos em Porto Alegre pode-se admitir como inevitável a banalização de tiroteios que mantêm cada vez mais a população sob fogo cruzado. A sociedade deve rejeitar com veemência mais esse sobressalto do cotidiano, usando suas armas da cidadania. Entre elas, estão maior colaboração com a polícia e o rechaço a práticas ilegais como o consumo de drogas, quase sempre associado às origens da criminalidade disseminada hoje no Brasil.