Nos séculos 19 e 20, a economia mundial passou por pelo menos três grandes ondas de inovações, chamadas de revoluções industriais. A incorporação de novos paradigmas tecnológicos, em cada processo, transformou as formas de organização da economia e das sociedades, mas também gerou resistências, em geral assentadas sobre incertezas quanto à preservação dos empregos. A experiência mostrou, contudo, que os ganhos de produtividade e de renda gerados pelas inovações possibilitaram não apenas a elevação do padrão de vida nas sociedades, mas também o surgimento de novas demandas e novas ocupações. Ou seja, as tecnologias melhoraram a vida dos cidadãos em geral, a despeito das perdas localizadas em alguns setores e regiões.
É difícil prever quando e como chegarão ao Brasil
A nova onda de transformações que começa a despontar nos países avançados, que vem sendo chamada de "quarta revolução industrial", reedita as antigas inseguranças sobre o futuro do trabalho. O uso disseminado das novas tecnologias, como a inteligência artificial, tem potencial para desencadear mudanças profundas na forma como as economias se organizam. A indústria poderá se tornar competitiva em pequena escala, o que altera a lógica atual de localização e da divisão internacional do trabalho, os serviços poderão ser oferecidos sem estruturas físicas. Essas transformações prometem trazer ganhos expressivos de produtividade, mas também carregam o risco da eliminação simultânea e sem precedentes de muitas profissões, com a possível ampliação das desigualdades sociais e de renda.
Em 1930, no artigo "As possibilidades econômicas para os nossos netos", o economista J. M. Keynes imaginou um futuro utópico no qual o aumento exponencial da produtividade reduziria a quantidade de horas de trabalho necessárias para a satisfação das necessidades materiais da humanidade. O conjunto de inovações que está a caminho tem potencial para viabilizar o cenário traçado por Keynes? Ou viveremos a distopia da ampliação da desigualdade de renda e da exclusão pelo desemprego estrutural?
Não há resposta clara para as questões acima. O processo está em curso, as novas tecnologias estão amadurecendo e os seus efeitos poderão ser antes vistos nos países desenvolvidos e nos emergentes mais bem posicionados. É difícil prever quando e como chegarão ao Brasil. Num país de profundas desigualdades, a coexistência de padrões tecnológicos distintos se apresenta como mais provável. O Brasil demonstra ter um claro potencial para construir vantagens apoiadas em inovação nas cadeias produtivas articuladas ao agronegócio e à exploração de fontes de energia. Os serviços que orbitam em torno das indústrias inovadoras e os vinculados à pesquisa nas áreas de biomedicina e sustentabilidade também parecem promissores. O que está claro é que o ingresso neste ciclo pressupõe investimentos expressivos do Estado em educação e na construção de infraestrutura de comunicação e de pesquisa científica, que permitam e facilitem a incorporação dos trabalhadores e das empresas ao novo paradigma.