Desde que minha mãe, Eva Sopher, faleceu, no dia 7 de fevereiro passado, nossa família tem recebido centenas de manifestações de solidariedade e tristeza. Isso se deve ao tamanho do trabalho por ela realizado, e certamente nos conforta bastante. Há o desalento compreensível e natural da perda, da ausência, eu até diria de um sentimento de orfandade.
O que mais me chama a atenção, no entanto, é o clima de apreensão e pessimismo em relação à continuidade da sua obra. E é por isso que venho aqui dar o meu depoimento.
O resultado do conjunto é um multilegado que se perpetuará por inspiração de todo o trabalho realizado
Para nós, que convivemos muito de perto com dona Eva, e principalmente para os mais íntimos, que acompanharam os 16 meses de sua vida após o AVC, com sua consequente fragilidade e limitações, ficou claro que a força do seu legado extrapola a obra física e material. Vai muito, muito além. Porque se estende até o desenvolvimento cultural da "grande/pequena" equipe liderada por ela durante as últimas décadas. São pessoas que ficaram impregnadas duma cultura que envolve o Theatro São Pedro, o Multipalco, a Orquestra de Câmara, criando uma atmosfera que tem como substrato a educação e o conhecimento de como deve funcionar um polo dessa dimensão.
Sou, portanto, bastante otimista em relação ao futuro e à continuidade de cada um dos projetos pensados por dona Eva. Tenho a convicção de que todos, os diretores, o pessoal administrativo, os serviços básicos e adjacentes vestirão a camiseta do TSP cuidando e mantendo esse que é um dos maiores patrimônios culturais do RS.
É bom lembrar que, a partir dos anos 1960, o casal Sopher atuou ativamente na difusão e no desenvolvimento das artes, cultura e design. O resultado do conjunto é um multilegado que se perpetuará por inspiração de todo o trabalho realizado.