Recentemente, perdemos um ícone gaúcho de relevância nacional. Raul Randon, um empreendedor visionário, corajoso e executor, que tive o privilégio de entrevistar durante uma pesquisa sobre o papel do fundador no processo de profissionalização de empresas familiares. Raul, com sua humildade característica, contou quando percebeu a necessidade de passar o bastão para a empresa avançar. A Randon conduziu um processo de sucessão exemplar, o que permitiu não só a eternização do legado do fundador, mas a adequação do negócio ao novo contexto econômico, a partir das mãos dos filhos.
O caso contribui para quebrar um tabu relacionado a empresas familiares, comumente associadas a companhias pequenas ou médias, com foco local e um conjunto de conflitos permanentes. Sobretudo, reforça a importância de uma sucessão bem estruturada e o papel das gerações no sucesso do negócio.
As empresas familiares têm características que favorecem o seu crescimento, tais como uma base cultural forte, agilidade na tomada de decisão e um espírito empreendedor permanente. Contudo, o ritmo acelerado de mudanças e novas tecnologias exige que os negócios se reinventem. Segundo dados da PwC, apenas 30% das empresas familiares se sentem vulneráveis à disrupção digital. Ora, essa transformação é uma ameaça para todas as empresas e indivíduos. Se os negócios familiares – que hoje representam 90% das empresas brasileiras e são responsáveis por 40% do PIB do país – não colocarem essa pauta em discussão e se mantiverem presos a modelos conservadores, pode-se imaginar os prejuízos para os próprios negócios e para toda a economia.
Uma mudança profunda no cenário empresarial representa enormes riscos, mas também abre oportunidades, com uma nova geração que é ambiciosa, mais aberta e, indiscutivelmente, mais bem preparada do que qualquer outra antes. O Magazine Luiza, por exemplo, desde que a terceira geração assumiu o comando, acumula uma das maiores altas da bolsa de valores e integra a lista das empresas mais inovadoras do Brasil. A justificativa é uma mudança de rumo em direção ao mercado digital, mas sem perder a sua essência cultural. É o equilíbrio entre tradição e inovação.
Foram as empresas familiares que, há décadas, levaram o Rio Grande do Sul à vitrine nacional. Hoje, a carência de novas lideranças empreendedoras é uma das razões para a estagnação da economia gaúcha. Que seja a nova geração uma alternativa não só para um novo ciclo de inovação nas empresas, mas também para uma era de renovação do Estado.