As forças de segurança e todos os envolvidos na chamada Operação Trapaça devem tomar cuidado para que uma operação com alvo específico – suspeitas de fraude em emissão de laudos técnicos– não venha a se prestar para generalizações, manchando a reputação de toda a produção animal brasileira. O agronegócio é um setor estratégico para a economia brasileira. No caso específico de empresas de alimentação, a conquista de mercado, tanto interna quanto externamente, é um processo demorado, pois depende da confiança dos consumidores. As perdas, por outro lado, ocorrem sempre com rapidez, e dificilmente conseguem ser plenamente revertidas.
Antes de mais nada, é preciso que tudo fique devidamente esclarecido
Antes de mais nada, é preciso que, a partir da megaoperação realizada ontem envolvendo a BRF, uma gigante do setor, tudo fique devidamente esclarecido. No Brasil ou no Exterior, não podem pairar quaisquer dúvidas sobre a qualidade dos alimentos que vão à mesa dos consumidores. A Polícia Federal e o Ministério Público, porém, precisam aprender com equívocos de ações anteriores, com o alarde e exageros registrados já nas primeiras ações da Operação Carne Fraca.
Em grande parte, a fusão que resultou na criação da BRF é uma consequência direta do agravamento da crise no setor a partir das primeiras investigações. A coincidência entre o desdobramento da fase atual e a data da assembleia geral extraordinária solicitada por representantes de grandes fundos de pensão só potencializa os danos. A queda inicial registrada nas ações de frigoríficos dá uma ideia de que, ao contrário da demora habitual para ganhar mercados, a perda pode ocorrer numa velocidade vertiginosa a partir do momento em que suspeitas se generalizam.
Quando megacorporações têm sua credibilidade abalada por suspeitas, os prejuízos com a perda de mercado não se restringem apenas aos acionistas. Os maiores danos acabam recaindo sobre os trabalhadores, sob a forma de demissões.