Vivemos tempos de polêmicas. Que tudo vire debate e seja discutido não é problema algum – isso é a base da democracia. Contudo, a questão é que, quase que invariavelmente, qualquer tema acirra os ânimos e acaba em disputa. Muito graças à famosa "problematização" – ideia de que tudo deve ser questionado, podendo servir a revoluções nos costumes. Assim, questões legítimas, merecedoras de atenção, acabam virando foco de politicagem e de manobras ideológicas.
Um caso típico é a mais do que justa defesa das mulheres, de que possamos participar da sociedade em igualdade com os homens, que constantemente se transforma em um verdadeiro ringue de defesa de interesses. Não há dúvidas de que avançamos em direitos e liberdade, mas devemos exigir mais. E esse é um processo que não deve parar enquanto não houver igualdade plena entre homens e mulheres nas possibilidades de atuação social e profissional.
Neste março e sempre, defendamos todas as mulheres: do machismo, sim, mas também do oportunismo.
Porém, os "problematizadores" foram além. Além da racionalidade e do bom senso. Não é raro vermos grupos que supostamente defendem as mulheres virem a público, por exemplo, criticar com veemência aquelas que escolheram cuidar da casa, dos filhos, abrindo mão de uma carreira profissional. Não estou dizendo que essa deva ser a postura de uma mulher, até porque defendo justamente que as mulheres sejam livres para dar o rumo que quiserem a suas vidas. Tive a sorte de crescer em uma família cuja liderança era exercida por uma mulher. Uma guerreira sempre à frente do seu tempo, que nos mostrou na prática que não existe função de mulher ou de homem.
Nos espaços de decisão e influência da sociedade, a defesa da liberdade e da integridade feminina deve ser uma causa inegociável. Mas essa causa não pode virar factoide político, como vira nas mãos de quem, por exemplo, silencia ante o massacre que sofrem mulheres mundo afora, em mãos de fundamentalistas islâmicos e comunistas, da Coreia do Norte ao Estado Islâmico, da Somália à Venezuela. Neste março – dedicado a nós – e sempre, defendamos todas as mulheres: do machismo, sim, mas também do oportunismo. Para que possamos ser o que quisermos. E sempre respeitadas.