Cresce no país a participação das mulheres nas carreiras de Estado, em contraste com a reduzida representação feminina na atividade política. Exemplos não faltam para confirmar essa tendência. Mulheres comandam hoje o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, a Procuradoria-Geral da República e a Advocacia-Geral da União. A presença feminina é expressiva, também, em outras carreiras de Estado, como Ministério Público, Polícia Federal e Forças Armadas. Da mesma forma, cada dia mais, as mulheres ingressam nas polícias civis e militares dos Estados, como é o caso da Brigada Militar e de Ana Maria Hass, recém graduada como primeira coronel em 180 anos da instituição gaúcha.
Neste março das mulheres, impõe-se, entretanto, uma reflexão sobre a pouca representação feminina na política, sobretudo nos Legislativos. , ou 14,8%, situação um pouco melhor do que na Câmara Federal, com 55 deputadas para 513 cadeiras, ou 10,7% do total. Nas Assembleias Estaduais e Câmaras de Vereadores, o quadro não é muito diferente.
As mulheres totalizam 51% da população brasileira e 52% do eleitorado, mas no Senado ocupam apenas 12 das 81 cadeiras
Quais as razões dessa disparidade? Penso que a estabilidade proporcionada pelas carreiras de Estado, permitindo que as mulheres possam planejar suas vidas pessoal e profissional, seja a primeira justificativa para essas escolhas. Na carreira política, o concurso para ingresso é o voto, que precisa ser confirmado ao fim de cada mandato. Além disso, a superexposição e a perda de privacidade no desempenho da atividade política, especialmente em tempos de crise e escândalos, contribuem para o desestímulo à participação, comprometendo a formação de novas lideranças políticas femininas.
Para uma efetiva mudança desse quadro, não bastam palavras de ordem como "mulher vota em mulher" nem sistema artificial de quotas ou novas leis. A conquista de mais espaço na política passa pela identificação e o incentivo às candidatas que se mostrem realmente vocacionadas para a atividade, que acreditam na sua capacidade para promover transformações e desejam realizar sonhos pessoais e ambições políticas, por parte dos dirigentes partidários. Porém, ainda temos um árduo caminho a ser trilhado para empoderar as mulheres na política, assim como está ocorrendo nas carreiras de Estado. Fica a convocação neste ano de eleições gerais. Isso dependerá não apenas da vontade das mulheres, mas, sobretudo, dos comandos partidários na garantia real de espaço e recursos às mulheres que queiram entrar na atividade política.