Quando chegou, o celular servia só para conversarmos com as pessoas sem estarmos atrelados a um fio, nos libertando da comunicação fixa.
De lá para cá, se tornou onipresente e universal, com uma penetração de 100% no mundo, onde existem 7,8 bilhões de aparelhos, com o crescimento de 18 milhões de linhas por mês. No Brasil, para uma população de 208 milhões, já temos 236 milhões de linhas móveis. O celular, que já acabou com muita conversa de bar e nas famílias, matou rádios portáteis, calculadoras, tocadores de música, blocos de notas, agendas de papel, cartas, pesquisas em bibliotecas, pequenas máquinas fotográficas, está matando TVs, cartões de crédito, videogames. E pode vir a substituir nossos documentos, que estarão embutidos ali.
Agora, com o comando de voz, o teclado fica obsoleto, nos deixa de mãos livres, e pode mudar o celular no formato como conhecemos hoje.
Há poucos dias o dinamarquês Jesper Rohde, amigo e colega da Hyper Island, participou do Mobile World Congress, o maior evento de mobilidade do mundo, que reuniu 100 mil participantes. Ele afirma que o celular está se tornando o ponto de comando de gestão e de engajamento com o mundo. Através do celular, cada vez mais podemos controlar nossas vidas, fazendo a integração de (quase) tudo, eliminando a interface que temos com a tecnologia.
Já podemos regular à distância a temperatura da casa, do forno, a intensidade das luzes, a música, as câmeras, a TV, marcar o restaurante, comprar tudo, chamar o Uber. Com os assistentes pessoais, que usam computação cognitiva e inteligência artificial – Eco/Alexa da Amazon, Google Assistente, Cortana da Microsoft, Siri da Apple ou o Aura da Telefônica – temos a voz de uma secretária virtual dentro de casa, fazendo muita coisa por nós. LG e Samsung, em parceria com o Google, já entregam geladeiras e fogões com wi-fi embutido, permitindo seu comando à distância, sem o celular no meio.
Tudo isso facilita nossa vida, quase de graça. Mas sinaliza algo muito perigoso: cada vez mais pagamos essa conta entregando nossos dados, nossos hábitos cotidianos, para gigantescas empresas, como Facebook, Google e Amazon. O que elas querem? Minerar, armazenar, analisar essa enorme quantidade de informação da nossa vida para nos influenciarem no consumo de informação, de compras, de tudo! Nos dão conveniência e entregamos a vida (em termos de dados). Querem saber o que queremos, antes de nós mesmos sabermos. Um ex-executivo do Google já disse que o sonho deles é entrar no nosso cérebro. E nesse sentido estão se movendo.