Nesse período pós-Carnaval, as palavras de Carlos Drummond de Andrade parecem se encaixar perfeitamente como um convite para a reflexão: "E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?".
O feriado que não é bem feriado é indiscutivelmente parte das tradições brasileiras, goste-se ou não. Assim como a sesta na Itália e Espanha ou a Oktoberfest na Alemanha, faça chuva ou faça sol, o país desacelera instintivamente para a data. Não que isso seja propriamente um problema ou algo condenável em si, pelo grave momento que vivemos. As coisas, afinal, são o que são.
A grande questão é que, também tradicionalmente, a volta do Carnaval é uma espécie de marco zero do ano, quando os assuntos começam a ganhar momento e até urgência. O ano de 2018 já começou um pouco diferente, pressionado por uma pauta que sobrou de 2017. Medidas importantes, como a recuperação do Estado, foram aprovadas e outras tantas estão por vir. E o poeta mesmo pergunta ao fim: "José, para onde?"
A pergunta, que ecoa há anos na cabeça de cada brasileiro, em meio a avanços e tropeços, denúncias e desilusões, segue justa. Mudanças pontuais foram feitas em algumas leis e a corrupção passou a ser efetivamente combatida, com inegáveis e sensíveis melhoras em ambos os casos. Por outro lado, nos dois casos, atacamos os sintomas e não a causa. A estrutura institucional pesada e disforme do Estado brasileiro segue intocada e sem uma indicação clara do que pode acontecer no futuro próximo.
Nosso amadurecimento como sociedade não passa por cancelarmos ou condenarmos festas, ou renegarmos momentos de descontração, mas por compreendermos a importância de acharmos nosso papel como cidadãos e nos envolvermos nas mudanças. Nosso problema não é o Carnaval, é a burocracia, a corrupção, a falta de educação e segurança. Então, "E agora, você?"