Dezoito homens contra uma mulher. Esse foi o placar da votação da PEC 181, que prevê a retirada do direito ao aborto legal em caso de estupro no Brasil. É doloroso ser mulher e ter de escrever este artigo, porque trato de um direito que poderá ser negado a mim, visto que qualquer mulher pode ser vítima de estupro e ter uma gravidez decorrente desse crime. O estuprador, esse ser horrendo, ele não é um monstro, ele nem sempre é um homem que surge do nada numa rua escura como se imagina na maioria das vezes. Ele é o pai, o vizinho, o primo, o cara da rua onde moramos. Ele é o motorista do aplicativo, o amigo que deu carona. Raramente é um desconhecido. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima. Ele é um criminoso, mas um criminoso próximo, o que explica a subnotificação dos casos. Apenas 10% (Ipea) chegam à polícia. Unindo os casos de estupro com as mortes por violência doméstica, rapidamente cai a ficha das razões para não denunciar. Ela é uma vítima e o inimigo dorme ao lado.
Duas Visões
Ser contra a PEC 181 é ser à favor da vida, diz socióloga
Vanessa Gil, doutoranda em Educação na Unisinos e militante da Marcha Mundial das Mulheres, entende que a proposta quer "dar título de pai a estupradores"