Há duas semanas, neste espaço, a menção à desindustrialização gerou salutar debate. Mas houve quem depreendesse do mesmo mensagem subliminar de mais subsídios ao setor – por que não dar esse dinheiro aos pobres, questionou um leitor caridoso.
Todavia, o artigo não formulou propostas. Limitou-se a constatar a perda dramática e sem similar no mundo da participação da indústria brasileira no PIB, que hoje é igual à de 1947. E cerca de 10%, quando nos anos 1970 alcançara 32%. Muito menos defendeu subsídios, até porque estes não faltaram, seja através de isenções, redução de impostos, perdão de multas e juros ou de financiamento. Ocorre que tais concessões não obedeceram qualquer estratégia; planos não faltaram, mas ficaram nas intenções. Predominou a chamada demanda de balcão: “quem pede leva” – o que não dispensa a força política para levar. Incentivos setoriais (verticais) são usuais em economias de mercado, mas só se justificam em casos especiais – daí muitos os condenarem. No caso, faltou o essencial: alavancar maior produtividade e/ou o ingresso em paradigma tecnológico mais avançado. Muitas vezes, foi reproduzir o velho ou incentivar setores já consolidados, como indústria automobilística (Inovar-Auto), empreiteiras, castelo de cartas como de Eike Batista, ou mesmo investimentos no Exterior (JBS, por exemplo).
Por outro lado, tais “subsídios”, além de não seguirem estratégia definida, defrontaram-se com políticas macroeconômicas francamente contra a produção. Em decorrência, no máximo, serviram como medidas compensatórias a alguns segmentos. A adoção do tripé alta carga tributária, juros elevados e real sobrevalorizado fazia sentido logo após a implantação do Plano Real, diante da prioridade de combater a inflação. Todavia, virou regra de política econômica. Assim, os três principais instrumentos macroeconômicos – fiscal, monetário e cambial – sinalizam há mais de duas décadas para a mesma direção, uma overdose à qual poucos segmentos da indústria conseguiram sobreviver. Incentivo setorial, nessas condições, é chover no molhado.
Por isso é impróprio denominar tais políticas de desenvolvimentistas. Desenvolvimentismo sem estratégia de crescimento é contradição em termos. O que faltou não foi subsídio nem “bolsa empresário”. Foi política econômica.