Sem dinheiro para realizar sequer o seu tradicional desfile temático da Semana Farroupilha, o Rio Grande do Sul comemora neste 20 de Setembro a sua data máxima diante de alguns desafios históricos no setor público, que repercutem diretamente sobre a vida de todos os gaúchos. Diante de um déficit em alta e sem perspectivas de receitas adicionais para cobri-lo ou atenuá-lo, o Palácio Piratini prepara-se para apresentar o plano de recuperação fiscal do Estado ao Ministério da Fazenda. A questão é que, para assegurar um período mínimo de três anos de carência no pagamento da dívida com a União e obter autorização federal para um empréstimo de pelo menos R$ 3 bilhões, o governo gaúcho precisa assegurar contrapartidas à altura desse alívio temporário na sua situação fiscal. E, fiel às tradições, esbarra em divisões intransponíveis.
As restrições às bases do acordo não partem apenas da oposição. Surgem até mesmo da base de apoio do governo na Assembleia. Uma Frente Parlamentar para Acompanhamento da Adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal, recém instalada, tenta retirar do acerto a possibilidade de privatização ou federalização de ativos do setor energético, o que pode atenuar as restrições políticas no Estado mas dificultar o acerto técnico no Planalto. A questão adicional é que, assim como a recente iniciativa de líderes para defender em Brasília obras públicas do Estado condenadas a ficar no papel, mobilizações desse tipo acabam se perdendo nos embates verbais, sem chegar de fato a resultados concretos. E o Estado não tem mais como esperar sem fazer nada, enquanto o déficit se descontrola e os servidores públicos veem seus salários transformados em parcelas cada vez mais reduzidas.
Todos os dias, mas especialmente neste período do ano de tanto significado para os gaúchos, é oportuno refletir sobre o alerta do publicitário Fábio Bernardi quanto à dificuldade de diálogo, que pressupõe duas coisas: uma ideia a ser trocada e a predisposição de ouvi-la. É justamente isso o que anda escasso numa sociedade cada vez mais sectária. Os prejuízos são generalizados, pois "é o conjunto de crenças, referências e valores culturais de uma região ou grupo de pessoas que molda o ritmo, o jeito e a direção do crescimento", lembra o publicitário em artigo publicado em Zero Hora, no qual questiona ao final: "Como estamos pensando aqui no Rio Grande do Sul?".
Uma data de tanto simbolismo quanto o 20 de Setembro é propícia para os gaúchos refletirem não apenas sobre como se está pensando no Estado, mas como se pensa o seu futuro. É uma forma de contribuir para que, por meio do diálogo e de consensos mínimos, o Rio Grande possa sair logo da estagnação, retomando o crescimento.