Tanto no plano federal quanto no estadual, a irresponsabilidade na condução das folhas salariais dos servidores públicos criou uma situação insustentável. Gestores públicos subestimaram a queda das receitas e da inflação, concedendo reajustes que, mesmo corrigindo injustiças enfrentadas por algumas categorias na época, hoje não têm como ser honrados, simplesmente por não haver dinheiro disponível em caixa. O resultado é o que se constata agora, com as dificuldades financeiras enfrentadas pelo poder público de maneira geral, particularmente no âmbito do Executivo.
Levantamento do economista Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas, divulgado na edição de sexta-feira pela Folha de S. Paulo, mostra que a folha de pagamento do governo federal chegou a R$ 282,5 bilhões em julho passado, em valores anualizados (soma de 12 meses, já descontada a inflação). O pico anterior dessa série havia sido em novembro de 2014, com R$ 272,3 bilhões. Apenas em 2017, o custo adicional já é de R$ 21,8 bilhões – um crescimento de 10,9% em termos reais. A explosão de gastos decorre dos aumentos irresponsavelmente concedidos pelo governo Dilma Rousseff e liberados pelo governo Michel Temer.
Outro estudo, do economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, publicado também na última sexta-feira, em Zero Hora, revela que, se a folha de pagamento do Estado tivesse sido reajustada pela inflação acumulada desde 2010, alcançaria R$ 20,3 bilhões em 2016. O montante seria R$ 5 bilhões inferior ao atual, o que eliminaria o déficit.
O trabalho demonstra a irresponsabilidade dos governantes que, mesmo conhecendo a crise das finanças, cedem a tentações populistas e fazem benesses com dinheiro dos contribuintes. É evidente que havia flagrantes injustiças, como as das funções iniciais da Brigada Militar. Ainda assim, todo e qualquer reajuste só poderia ter sido concedido se houvesse a devida correção de distorções, como salários muito acima do razoável, com inchaço de muitos setores e a inutilidade de incontáveis órgãos públicos.
Aumentar vencimentos, ainda mais acima da inflação, sem reorganizar a máquina pública é iniciativa eleitoreira, típica de quem não está preocupado com o futuro do Estado, mas apenas em fazer agrados a sua base e em coletar votos para a próxima eleição. Some-se ao agravamento do quadro o fato de outros poderes conviverem com vantagens diferenciadas, como maior média salarial, auxílio-moradia, salários acima do teto e de não compartilharem dos sacrifícios que recaem unicamente sobre o Executivo, como se a origem dos recursos não fosse a mesma.
A conta da incúria pode demorar, mas chega, como se vê agora. Infelizmente, recai sobre a categoria de servidores do Executivo, submetidos a toda sorte de constrangimentos pelos repetidos atrasos e parcelamentos de salários.