* Médica e professora da Faculdade de Medicina da UFRGS
Novamente, nosso Estado foi assolado por vendavais que atingiram mais de 100 km/h e danificaram casas e arrancaram telhados. Chamou a atenção nas imagens divulgadas pela imprensa que muitos dos telhados destruídos são de telhas que contêm amianto. O amianto, ou asbesto, é um produto altamente tóxico para a saúde, uma vez que suas fibras são cancerígenas. O amianto é um mineral fibroso, proveniente da natureza, que é utilizado na produção de fibrocimento usado em telhas, placas de parede, divisórias, chapas onduladas, caixas-d'água etc. As telhas que contêm amianto, comuns em construções mais antigas, são grandes, onduladas e de coloração acinzentada. Quando as telhas estão inteiras, as fibras de amianto ficam presas, mas, no momento em que as mesmas são quebradas, as fibras de amianto ficam no ar e podem ser inaladas. Pequenas quantidades de fibras são capazes de causar câncer. Por isso, produtos com amianto foram banidos em muitos países e cuidados especiais são tomados no momento da demolição de imóveis contaminados. No RS, a Lei 11.643, de 21 de junho de 2001, proibiu a produção e a comercialização de produtos contendo amianto. Os estabelecimentos industriais e comerciais receberam um prazo de até quatro anos para adequarem-se à lei. Entretanto, ainda hoje há oferta de telhas mais baratas com amianto em lojas de material de construção em Porto Alegre.
Frente a essa situação, a população deve ser orientada a não reutilizar telhas contendo amianto e a só comprar produtos com o rótulo "sem amianto". Ainda, algumas perguntas devem ser respondidas pelos governantes de nosso Estado e das nossas cidades: onde foram parar os restos de telhados contendo amianto? O descarte desse material foi adequado? Como está a fiscalização da produção e da comercialização de produtos proibidos contendo amianto? Que tipo de controle existe para evitar o uso de amianto nas reconstruções de nossas cidades? Que as respostas a essas perguntas sirvam para elaborar uma política de descarte adequado de produtos cancerígenos, que são nocivos para o meio ambiente e para os indivíduos que o habitam.