* Jornalista, doutor em Educação em Ciências - UFRGS, coordenador do curso de Jornalismo do IPA
O discurso de prioridade para a educação segue presente em 10 entre 10 programas de governo nas diferentes esferas. A Constituição Federal determina percentual mínimo de investimento. Porém, a cada ano, novos subterfúgios são criados para justificar a incapacidade de solução dos problemas mais básicos. Já vimos de tudo no que diz respeito a políticas públicas. Desde grandes programas para erradicação do analfabetismo naufragados, passando por tentativas frustradas de implantação do ensino em turno integral e chegando a equívocos históricos como rotatividade no calendário escolar. E a população foi se acostumando às desculpas. Agora, chegamos ao extremo do implausível.
Ao assistir a recente entrevista do atual secretário estadual da Educação do Rio Grande do Sul no RBS Notícias, soa muito estranho a explicação para a significativa redução no número de escolas na rede estadual. Segundo o titular da pasta, nos últimos 20 anos, foram fechadas 793 escolas porque não há demanda (!!!???). Ele afirmou que são cerca de 500 mil alunos a menos nesse período. Convenhamos que é muito difícil compreender essa lógica e encontrar qualquer afinidade com a linha de raciocínio. Quem sabe seja porque o secretário é administrador de empresas e não professor?
Parece óbvio que essa retração no números de matrículas esteja intimamente vinculada à queda violentíssima na qualidade ofertada. Paralisações frequentes ocasionadas pela desvalorização de professores e professoras, falta de docentes em diversas áreas do conhecimento, infraestrutura abaixo da linha da precariedade são alguns dos motivos evidentes. Ou seja, inaptidão dos governos para gerir a educação pública. E se o Estado não faz, tem muita gente a fim de fazer na iniciativa privada, não é mesmo? É, raciocinando nessa perspectiva, fica até mais fácil de compreender.
Alguém aí, que agora ajeita os óculos para ler esse artigo, dobrando a página do jornal ou correndo os dedos pela tela do tablet, abriria mão de uma educação pública de qualidade para os seus filhos? Você que, assim como eu, quita em dia seus tributos dos mais variados – e ainda contrata plano privado de saúde, investe em segurança privada no seu condomínio, paga seguro do carro etc. – não quer uma escola pública como já houve no Brasil e como existe em tantos outros países? A propósito: onde estão hoje esses 500 mil evadidos da escola pública?