Por muito tempo, parecia paranoia, uma síndrome persistente da Guerra Fria. Certamente, a civilização dos dias de hoje não guardaria espaço para novas tiranias. O Oriente Médio e as ditaduras africanas sempre estiveram suficientemente longe da vista, enquanto Cuba e Coreia do Norte tornaram-se meros remanescentes de um tempo de soberanos caricatos e vassalos desiludidos perdido na história desde a queda do muro de Berlim.
A democracia havia vencido uma longa e desgastante batalha. Qualquer voz que ousasse minimamente apontar falhas era logo tachada de alarmista, elitista ou, ainda, de inimiga dos interesses do povo. A humanidade raramente aprende com os erros dos outros, quem dirá com os erros de outros tempos.
Não é de hoje que regimes autoritários de cunho socialista, comunista, fascista ou seus pares jogam nações inteiras na miséria. Aliás, a alegada defesa do povo é justamente a razão de tudo. Sempre é. Sua proteção e bem-estar deve prevalecer frente aos interesses egoístas dos indivíduos, seres estes desprovidos de qualquer consciência humanitária – os padeiros de Adam Smith que se cuidem.
O argumento, se é que se pode chamar assim, não resiste a qualquer análise lógica e tem consequências trágicas na prática. A pobreza extrema dominou um país outrora rico. Segundo a Economist, a renda venezuelana voltou aos patamares de 1950, e inacreditáveis 93% da população não conseguem comprar comida. A culpa, como não poderia deixar de ser, recai sobre fatores externos, como o preço do petróleo. Evidências contrárias em relação ao valor no longo prazo ou indícios de vidas melhores em outros países não merecem atenção.
O grito de socorro veio tarde e, inicialmente, pouco audível. As milhões de vozes que clamavam por socorro, mais do que ignoradas, foram presas e torturadas para que se calassem. Falta de tudo, mas resta ainda um pouco de esperança. Países como o nosso, que estavam ocupados demais trilhando caminhos idênticos, acordaram e começam a isolar o governo. Afinal, a complacência com o regime seria a conivência com a exploração de cada venezuelano. O SOS da Venezuela caiu como um aviso para muitos. O preço da liberdade é, mesmo, a eterna vigilância.