* Médico
Estamos vivendo uma escassez de lideranças que representem o brasileiro de bem e conduzam o país corretamente. Se estamos procurando lideranças já é um mal sinal. Lideranças, por definição, se destacam por conta própria e assumem seu papel sem precisarmos garimpá-las. Criou-se um ambiente de incertezas e desânimo que trouxe um efeito de proporção inédita: uma enorme evasão – ou fuga – de brasileiros para o Exterior.
De acordo com a Receita Federal, mais de 18,5 mil brasileiros deixaram o país em definitivo no último ano, mais do que o dobro de 2011. E, pouco diferente do que ocorria no passado, têm vida estável e carreira consolidada, que estão abrindo mão em troca de expectativa melhor para si e suas famílias. São pessoas em busca de melhor qualidade de vida e mais chance de sobreviver aos constantes riscos que vivemos.
São talentos que o país perde decorrente de uma crise séria, com desinvestimentos que levam universidades a reduzir seu corpo de docentes, empresas a limitar aprimoramento de seus colaboradores e corporações públicas e privadas a assinalar que não visualizam qualquer crescimento a curto e médio prazo. Associado a isso, temos uma geração que quer resultados rápidos, que o mundo se adapte a suas necessidades e olha para qualidade de vida com convicção e prioridade.
São jovens cuja nacionalidade é digital, muito familiarizados com a internet, compartilhamento de arquivos e telefones móveis, que só conhecem máquinas de escrever por fotografias e perguntam porque pedimos para "discar" um número de telefone. Esses brasileiros, nascidos no final da década de 1990 em diante, não tem motivo para ver fronteiras. Nasceram em um mundo sem limites. É evidente que um elemento chave para o sucesso é reter essas pessoas qualificadas e com energia para transformar. Não há dúvida, da mesma forma, que isso requer estímulo e estratégia, que deveria estar na pauta de qualquer governante que pensa no bem do país.
Ficar esperando que essa geração seja motivada somente pelo "desafio em si" pode ser um erro. Em um país dividido, em que grupos com suas convicções trocam acusações e vários aproveitadores assumem papel de liderança, temos os ingredientes para ver uma próxima geração de pessoas inteligentes e honestas simplesmente procurando outro ambiente para fazer aquilo que todos buscamos: viver mais e melhor.