Eu adoro filmes de ficção científica. Adoro viajar em mundos possíveis, imaginários, distantes e graficamente bem construídos. Mas confesso que gosto mais ainda quando as coisas se aproximam da nossa realidade, como em Her, Black Mirror e tantos outros. Gosto porque me causa esse impacto de perceber que algo corriqueiro pode ser na verdade bizarro. Tudo depende do modo como olhamos e, é claro, tudo depende de uma boa narrativa. Aqui entra o trabalho mais recente do diretor Bong Joon Ho, Okja.
A história é mais ou menos assim: num presente não muito distante, uma empresa cria um modo ecologicamente amigável e sustentável de produzir carne. Sem poluir, sem maltratar, tudo maravilhoso. Então, conhecemos duas personagens: Okja, uma das superporcas do projeto, e Mija, sua amiga-dona-cuidadora, uma adolescente coreana. Durante o filme, acompanhamos o desenrolar do projeto e os efeitos dele na vida de Mija, na empresa e na sociedade.
O filme é exagerado na caracterização dos personagens, é satírico no circo da propaganda em várias instâncias, e é também obscuro, lindo e muito triste, pessimista, eu diria. Parei de comer carne aos 13 anos, por escolha própria. A gente era um tipo de ET por ser vegetariano nos anos 90. Aos 26, voltei a comer carne, mesmo tendo assistido a todos aqueles documentários sobre a indústria da carne. A vida segue, a gente muda, nunca tive orgulho disso, tinha vergonha até. Assim como hoje tenho um pouco de vergonha de comprar roupas ou sapatos.
Era pra ser um "vamos assistir a esse filminho?", mas não foi. Depois de Okja, eu me senti muito mal – minha namorada disse que eu posso ter tido uma reação exacerbada por conta de outros questionamentos que tenho na vida, enfim –, eu chorei muito. Quando a gente percebe o mal, o horror, percebe que faz parte disso, aí vem o impacto. Aí vem o peito amassado pela sinceridade da arte. É raro quando um trabalho mexe assim na gente.
Bem, não consigo mais comer carne. Não vou falar muito mais, só fica o aviso: caso você seja uma pessoa um pouco sensível e consciente quanto a essa indústria, e caso queira permanecer comendo carne, não assista a Okja (a propósito, está no Netflix).