O presidente Michel Temer alegou que "a população brasileira irá compreender" o aumento de tributos sobre combustíveis, que impactou imediatamente o bolso dos consumidores. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao se manifestar sobre a decisão, garantiu que "tudo o que fazemos é para beneficiar o bolso do cidadão". As reações indignadas de quem já arcou com preço novo nos postos demonstram que os contribuintes e consumidores podem até entender as razões do arrocho, mas não têm como aceitá-las. Um dos motivos é que o aperto se deve a equívocos dos próprios governantes, não de quem acaba arcando com o ônus final.
Certamente, o atual governo herdou uma conta pesada da gestão que o antecedeu. Na administração anterior, as despesas se multiplicaram, bancos públicos foram usados para dissimular rombos no caixa do Tesouro e o país entrou numa recessão da qual não conseguiu sair até hoje. Em consequência, as receitas encolheram. Ainda assim, também é fato que, mais de um ano depois da troca de governo, não há qualquer sinal à vista de benefícios ao "bolso do cidadão", como alega o ministro da Fazenda.
Melhor faria o governo se, antes de recorrer a uma alternativa fácil como o aumento de tributos para manter a meta de um rombo já elevado demais de R$ 139 bilhões, decidisse cortar gastos desnecessários. É mais do que hora, também, de o governo federal conter o ritmo da liberação de benesses para agradar a integrantes de sua base de apoio. Se faltam recursos para atender a demandas básicas da sociedade, é inadmissível que o Planalto continue recorrendo à liberação de verbas de emendas parlamentares motivado mais por interesses próprios do que pelos da sociedade. Ainda mais que o objetivo, no caso, é barrar no Congresso a denúncia contra o presidente da República por corrupção, com base na delação da JBS.
A crise política, com repercussões sérias sobre a atividade econômica, tem que ser resolvida pelos próprios políticos, que a criaram. Não é justo que, no esforço de atenuá-la, o governo acabe se valendo até mesmo de dinheiro dos impostos, num momento em que serviços essenciais vêm sendo descontinuados por falta de verbas orçamentárias.
Consumidores e contribuintes não têm como aceitar saídas fáceis para a crise financeira do setor público, como combustíveis mais caros em consequência de maior taxação. É inconcebível que um país com carga tributária tão elevada e serviços tão precários não consiga garantir um mínimo de equilíbrio nas contas do setor público.