* Advogado, mestrando em direito público pela UFRGS
Com espanto temos assistido a Operação Lava-Jato, trazendo à luz a mais triste realidade da política brasileira e a forma espúria com que o privado se relaciona com o público.
Muitos, tentando explicar a situação política, sugerem uma crise ética brasileira, como se pudéssemos ser menos éticos que o europeu, de quem descendemos e herdamos nossos valores. Nada mais equivocado, todavia! O brasileiro é trabalhador, é honesto e é um incansável batalhador por dias melhores, sobrevivente de um Estado parasita que pouco lhe devolve em troca. A crise não é ética, mas fruto do nosso modelo político-institucional, já que no Legislativo (inclusive municipal) estão sentados os nossos pares, todos fazendo uma estrita e fiel representação da sociedade.
O que aqueles que falam em crise ética não fazem é investigar o cerne do problema. Não questionam a (ir)racionalidade de um sistema que exige para a eleição de um deputado votos em centenas de municípios (minando a identificação do eleitor com o candidato) e encarecendo a campanha para alguns milhões de reais. Um sistema com 35 partidos - levando o governo a fazer coalizões e acordos - parindo mensalões. Que permite ao Presidente ser chefe de Estado, de governo e da administração pública (usando-a como leilão e cabide de empregos). Que torna politicamente irresponsável o governante, independentemente da sua competência, de cujo cargo somente poderá ser retirado mediante um processo doloroso de impeachment, cujo resultado é pior do que os males que pretende curar. Um modelo federativo centralizador de recursos, que leva Estados à mendicância e lhes retira a autonomia, elemento essencial da república federativa.
Essas questões é que são as verdadeiras causas! Instituições e arranjos políticos irracionais jamais produzirão comportamentos ou parlamentares racionais. O sistema é torto e é feito para produzir atitudes à margem da lei! A culpa não é da ética. A maioria daqueles que desembarcam em Brasília são homens probos como nós. O problema é quando a disputa eleitoral se inicia e com ela ganha assento a total irracionalidade.