* Especialista em Administração Hospitalar, mestre em Administração e Negócios
O caos no atendimento dos serviços hospitalares de urgência e emergência é, certamente, o lado mais perverso da crise da saúde no Brasil. Na hierarquia da atenção à saúde, esse é o recurso mais crítico e, portanto, o mais sensível para a população usuária do SUS. Casos de urgência são os que trazem risco de perda de vida ou função, em intervalo de horas ou dias. Casos de emergência necessitam de atendimento imediato, pois acarretam risco de vida. Atendimentos dessa natureza exigem as melhores estratégias, recursos e gestão, pressupostos usualmente ausentes nos órgãos que dirigem e nas instituições que prestam esses serviços. Essas constatações iniciais (e a mídia diária) apontam, de forma clara, para um baixo desempenho do sistema de saúde como um todo e de cada hospital que o compõe, em particular. Não é prática entre gestores a utilização de revisões de processos para aperfeiçoar as intervenções e reduzir a espera, a tomada de decisões baseada em evidências e o uso de protocolos médicos, com aumento de resolutividade, custos adequados e humanização do atendimento. O contribuinte, em última análise, o financiador do sistema, é quem padece.
A criação das UPAs justificou-se como solução para a superlotação histórica nas urgências/emergências. Atualmente, 165 unidades em todo o país estão inoperantes, mesmo com a flexibilização das regras para sua abertura. O governo federal diz que faltam médicos e as secretarias estaduais dizem que o custeio federal é baixo, faltam equipamentos e profissionais. A solução emperra em cargos de indicação política e corporações poderosas.
Somando-se a isso, grande parte dos pacientes que procuram as urgências/emergências vem pela falta de cobertura na atenção primária, isto é, acesso a atendimentos e consultas nas equipes de saúde da família e nas unidades básicas. Estas, na maioria dos casos, estão desacreditadas por ausência de profissionais ou carência de estrutura. Para piorar o cenário, as unidades de urgência/emergência no Brasil não cresceram na mesma proporção do aumento e envelhecimento da população e da elevação do número de casos agudos decorrentes da violência urbana.
Portanto, universalidade, integralidade e igualdade na saúde, que são princípios básicos na nossa Constituição, estão ausentes no planejamento, na gestão, na avaliação e na regulação da maioria dos serviços de urgência/emergência no país. Recursos financeiros existem, mas estão, todos sabemos, em outros lugares.