* Arquiteto, urbanista, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS)
Cidade para todos. Conceito cada vez mais difundido mundo afora e que, mais recentemente, passa a fazer parte das discussões sobre o avanço das metrópoles em desenvolvimento. A experiência das pessoas na cidade é o ponto de partida. E, nesta reflexão, começam os questionamentos: por que não se caminha mais na rua? Por que andar de bicicleta ainda é lazer e não meio de transporte? Quando conseguiremos reverter a dependência do carro e o trânsito consequente?
Respostas óbvias para problemas básicos: infelizmente, as calçadas não são convite; ainda faltam ciclovias, essenciais para a segurança e também para manutenção de trajetos que liguem destinos; o embarque na condução coletiva já é problema, uma vez que é notável a falta de qualidade e de manutenção das paradas de ônibus e terminais, assim como todo o mobiliário urbano de maneira geral. Tudo isso parece reflexo do abandono de uma cidade que se fechou dentro de muros e dos portões das casas e dos edifícios.
O exemplo do descaso fica ainda mais evidente para quem passa pelo Terminal Triângulo, na Zona Norte da Capital. Já faz uns bons anos que o vento levou a cobertura de um dos mais importantes pontos de ônibus da cidade. E esta nunca mais recebeu reparos. Os elevadores não operam mais e a insegurança de um lugar abandonado parece tomar conta. O prejuízo é coletivo, uma vez que o Terminal Triângulo atende cerca de 20 mil pessoas em 57 linhas urbanas e 200 metropolitanas que passam por ali.
Precisamos de incentivos reais para uma cidade mais viva. Quando percebermos a diferença que fazem mobiliário urbano de qualidade – bancos nas praças, lixeiras nas ruas, paradas e terminais de ônibus seguros e organizados –, apoios às iniciativas que levam as pessoas para a rua, como festivais, feiras e shows, e ideias ainda inovadoras – pelo menos para nossa realidade – como as "vagas vivas", os chamados parklets, que transformam espaço de carros em áreas de convívio, talvez, o investimento nestes equipamentos mude de posição na fila de prioridades da gestão urbana.