O Brasil passa uma falsa impressão de normalidade. Talvez viver aqui nos deixe insensíveis ao ponto de não percebermos quão absurda é a realidade do nosso país. Vivemos em um país, mas em dois mundos.
O Estado brasileiro arrecada quase a metade do PIB do país em tributos e, não satisfeito, impõe dívidas às próximas gerações. Nada produz, mas intervém na economia e na vida de cada brasileiro de maneira nefasta, servindo-se da população em vez de servi-la. Encastela-se em carreiras estáveis e benefícios sem fim, colocando corporações na linha de frente da defesa do status quo. Dá sinais de que, afinal, voltamos aos tempos em que soberanos detinham um poder supremo sobre seu povo.
No outro Brasil, vive um povo que trabalha duro em um regime sutil de servidão. O nome parece pesado, talvez gere até um certo desconforto. Quando praticamente a metade do que uma pessoa produz lhe é tomada na forma de tributos, contudo, é difícil descrever de outra forma. A sutileza mora nos valores de dependência estatal que se criaram, que fazem com que, na busca por uma solução, a primeira reação da população seja clamar por mais Estado. Então, pagamos ainda mais para que crianças não sejam educadas, criminosos sejam soltos e doentes percam a vida em filas.
O Dia da Liberdade de Impostos, celebrado no último 6 de junho, ilustra bem a evolução da carga tributária brasileira, a maior da América Latina e a mais complexa de se calcular do mundo. Apenas nos últimos 15 anos, a data foi atrasada em mais de um dia por ano. E por que pagamos tanto? Pagamos por não questionarmos e por não nos envolvermos. Pagamos, enfim, porque servimos. E não é só dinheiro. Os tributos afetam a produtividade da economia e perdemos também as oportunidades que o peso do Estado não permite que se criem, e os sonhos e futuros perdidos com elas.
As reformas necessárias ao país, não apenas as que estão aí, e as privatizações que virão são mais uma chance de corrigirmos o rumo e retomarmos as rédeas do nosso destino. Precisam ser abraçadas e empurradas pela população. O Brasil tem tudo para dar certo, mas o desenvolvimento passa necessariamente pela redefinição do Estado. O mundo nos mostra que um outro caminho existe. Chegou o momento de tomá-lo.