O português é uma língua ao mesmo tempo bela e complexa. A quantidade de palavras e expressões que deveriam dar claridade às nossas ideias muitas vezes são distorcidas e, deixando-nos perder no sentido das palavras, acabamos emprestando o mesmo significado a coisas muito diferentes, quando não os invertemos completamente.
Em um primeiro momento, pode não parecer algo tão grave, mas, com o tempo, essa concepção equivocada acaba prejudicando inclusive a capacidade das pessoas de emitirem um juízo crítico adequado do que estão vendo. Criam-se então as célebres narrativas, que aproveitam as fragilidades da interpretação para misturar ainda mais os conceitos e desenvolver nexos causais no mínimo irrealistas. Aceitando essa análise terceirizada e enviesada, os brasileiros foram invertendo os seus valores.
Chegamos ao ponto de buscar na regulação do Estado a solução para os problemas que advêm justamente da sua intervenção. O certo e o errado se misturam e condenamos a polícia que defende os direitos e as liberdades de cada cidadão em prol de quem usa da violência para agredi-los. Acreditamos nos argumentos dos que dizem defender direitos iguais, mas não aceitam menos do que direitos a mais. Equiparam privilégios e direitos e assim vivem da sociedade, com contribuições que são impostas e impostos que são formas de exploração. A máquina estatal serve-se em vez de servir e as pessoas aceitam a burocracia e o custo como algo natural. Mesmo o Estado sofre desse mal, e as unidades federadas, enfraquecidas e desacreditadas, acham natural a submissão à União.
A realidade foi negada de maneira suficientemente convincente e minimamente conveniente. Funcionou por um tempo, mas os fatos se impuseram aos bordões. Cabe a nós, como sociedade, entendermos e apoiarmos as reformas necessárias e, com isso, promovermos uma nova transformação.