* Economista
Não há outra saída: despesa criada, imposto cobrado. Ou dos atuais contribuintes (cujos representantes criaram a despesa) por meio da legislação atual, ou mais duramente dos pobres via imposto inflacionário ou dos futuros contribuintes que irão pagar as dívidas contraídas. No longo prazo – e é isso que importa – a carga tributária é o peso da despesa pública. Apesar disso, o orçamento público, instrumento fundamental da defesa do contribuinte, foi abandonado e os principais atores da política brasileira se especializaram em pressionar por mais órgãos, programas, obras, incentivos, subsídios, benefícios, enfim, por maiores despesas.
Assim, além da imensa pressão do mastodôntico Executivo, os legisladores abandonam sua função maior, a de controlar o orçamento, e se transformam, sem o menor recato, em lobistas das mais diversas organizações que buscam, a qualquer custo, todo o tipo apoio do Estado. Na carona, os demais Poderes se tornam sócios privilegiados na partilha do inchaço orçamentário.
Do outro lado, as organizações, em especial, as empresariais se omitem no processo orçamentário, exceto para exigir novos programas e mais benefícios. E como conseguem! Em especial a partir daquelas com mais poder de fogo e de corrupção. O resultado é inevitável, aumento sorrateiro da carga tributária e da parte que é jogada sobre os ombros dos contribuintes excluídos das benesses. Mas a cumplicidade é geral, todos se calam diante de novos programas governamentais ou da concessão de benefícios a outros setores, todos esperam que, chegada sua vez, não tenham a oposição dos demais.
No entanto, outras consequências tão ou mais graves se entrelaçam e se retroalimentam mutuamente: altíssimas alíquotas, emaranhado tributário de isenções, reduções, exclusões, devoluções etc., e escandalosos níveis de sonegação e corrupção. Contudo, em coro uníssono, todos os atores protestam em altos brados contra a enorme complexidade da legislação e contra a insuportável carga tributária. Um verdadeiro teatro do absurdo.