Recentemente, fiz minha primeira consulta de terapia pela internet. Quem me atendeu foi um computador chamado WoeBot, em consulta pelo Facebook mesmo. Ele perguntou como eu estava me sentindo, explicou sua política de privacidade, e todo dia me chama no celular para perguntar como estou.
O mais impressionante? O WoeBot aprendeu sua profissão sozinho. Isso porque ele foi criado com base em princípios de inteligência artificial. Um dia, um cientista resolveu dar a ele uma missão: atingir níveis de excelência em tratamento de depressão. Para tanto, entregou prontuários médicos em quantidade e o incitou a aprender por tentativa e erro o que fazer. E hoje ele atende a qualquer um, pela internet, de graça.
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É claro que WoeBot não é um profissional da saúde, e que o "tratamento" que eu recebi é um experimento. Atualmente, não existem computadores médicos que aprendem a nos cuidar sozinhos. Mas, no futuro, haverá. E a questão central é o papel que esses programas exercerão sobre a nossa saúde.
A esquizofrenia, por exemplo, é uma doença difícil de ser diagnosticada precocemente. Mas o Mount Sinai Hospital, de Nova York, deu um jeito. Com base na ficha médica de 700 mil pacientes, criou o programa Deep Patient para ser um expert em análise clínica. De diabetes a esquizofrenia, a eficiência do programa é tão grande que a prestigiosa revista Nature escreveu um artigo sobre seus feitos.
A base de funcionamento da inteligência artificial é anterior à internet. O WoeChat, por exemplo, utiliza inteligência artificial para facilitar o contato entre humanos e máquinas. É assim que eu consigo, pelo Facebook, receber por mensagem um "tratamento" terapêutico realizado por uma máquina. A tecnologia base disso remonta à década de 1960, quando o Laboratório de Inteligência Artificial do MIT criou ELIZA, o primeiro programa de linguagem natural que buscava estabelecer comunicação entre máquinas e humanos.
Nos últimos anos, é alta a velocidade de inovações no uso de inteligência artificial para resolver problemas de saúde. Até porque hospitais estão cada vez mais informatizados, e com isso os prontuários médicos são hoje a base de conhecimento para treinarmos computadores a saberem mais sobre nós, humanos.
Quem tem interesse em dados da saúde? Governos, que podem alocar recursos com mais eficiência ao nos analisar, planos de saúde e hospitais, que enxergam nos dados um modelo de negócio, e até pacientes, que incorporam aplicativos à sua rotina para monitorar a própria saúde.
Um relatório da McKinsey mapeou as áreas em que a inteligência artificial mais tende a substituir a mão de obra. Por incrível que pareça, uma parte das profissões ligadas à saúde está entre aquelas que podem desaparecer em menos de 25 anos. Isso porque médicos, por exemplo, gastam boa parte de seu tempo coletando e processando dados, justamente nas áreas em que a inteligência artificial mais avança.
O cenário mais arriscado é imaginar que computadores vão substituir nossos médicos, e que caberá às máquinas decisões éticas sobre nossas vidas. Outro cenário, muito mais avançado e familiar, é o modelo "Olá, doutora", no qual a inteligência artificial amplia a capacidade dos profissionais da saúde em nos atender. Nesse universo, médicos e máquinas trabalham lado a lado, mas quem cuida do nosso tratamento continua sendo (por dentro) igual ao seu paciente.