Empreender no Brasil é desafio de super-herói. Não basta ter uma boa ideia e capacidade para executá-la: é preciso dedicar tempo e energia para encarar o fantasma da burocracia e o peso do Estado que predomina no país. Logo de saída, é necessário lidar com o lento processo de licenciamento da empresa. À medida que cresce, aparecem as complexidades tributárias, as mudanças constantes de legislação e, como se não bastasse, ofertas de um caminho mais fácil para aqueles que aceitam entrar no jogo da corrupção.
O hostil ambiente de negócios brasileiro, muitas vezes, é o que reforça a falsa crença de que, no Brasil, é impossível ter sucesso sem transgredir. Na ânsia por resultado, parece ser aceitável valorizar mais "o que" se está fazendo, do que o "como". Infelizmente, estamos vivendo um momento especialmente crítico, em que o mau exemplo dado por empresários que deveriam ser a nossa fonte de inspiração fortalece esse mito e, ainda, contamina negativamente a percepção sobre quem produz e gera empregos.
Se existe algo bom em meio a esse caos é a prova de que ninguém está imune e que, mais cedo ou mais tarde, o que você faz aparece. Por isso, o empreendedor precisa ter claro, desde o início, que para ter um negócio sustentável a longo prazo, é preciso construí-lo sobre bases sólidas, caso contrário, os atalhos do caminho podem comprometer o negócio no futuro.
Felizmente, na grata oportunidade que tenho de trabalhar com empreendedores, posso afirmar que o Brasil está cheio de heróis: empreendedores que trabalham duro, todos os dias, para tirar seu sonho do papel, levando nas costas todo o entulho burocrático. Eles são exemplo de um Brasil que dá certo e mostram que, mesmo com os inúmeros obstáculos e solavancos, é possível crescer do jeito certo, trilhando um caminho ético e transparente. São esses exemplos que precisam ser multiplicados para construirmos um novo tipo de liderança e comportamento empresarial no país.
Em um momento em que falamos de desvios éticos de grandes proporções, precisamos ter consciência de que tudo que cada um de nós faz no dia a dia importa. Se queremos ter um país melhor e mais sério, temos que iniciar pelo nosso comportamento. A força do exemplo é o único meio para quebrar esse círculo vicioso de corrupção dos mais diversos níveis.
E que, da próxima vez que alguém disser que há um jeito mais "fácil", a decisão de não transgredir seja a única opção.