* Acadêmico de Direito
A persecução dos objetivos particulares e públicos se confundem e, quando o primeiro é privilegiado, utiliza-se de retórica vazia para justificá-lo. A ação e o discurso, respaldados em condutas éticas, são substituídos por outros valores, no conceito de governo na modernidade, o único interesse que os homens têm em comum é a proteção da propriedade privada e da liberdade para acumular riquezas. Assim, a esfera pública assumiu o conteúdo da esfera privada e a esfera privada passa a ser o único interesse comum da sociedade.
À medida que a política foi substituída pela economia, que o Estado foi substituído pelas multinacionais e o cidadão por consumidores, não se consegue vislumbrar um espaço propício para o resgate do político como instrumento de resolução de conflitos.
Assim, a política tornou-se apenas mais um entretenimento, pois não se pauta por recursos argumentativos e dialógicos (ação em Arendt), mas apenas pela força da persuasão possibilitada pelos recursos públicos. Nesse sentido, o cidadão de hoje não debate, não argumenta, não participa, assiste ao jogo político apresentado pelos telejornais sentado solitariamente em sua poltrona.
No entanto, a manifestação não é contra a democracia, mas sim sobre a classe política que se apropria da representação, não prestando contas ou justificando suas ações de acordo com o interesse social. O sentimento de indignação, por não ter suas necessidades mínimas atendidas, diante de uma arrecadação de impostos maior, fez com que o povo reconhecesse em si uma sociedade multicultural, tornou-se apenas uma unidade.
Voto, democracia, participação e interesse são elementos complexos e necessários. O voto, por exemplo, pode ser ideológico, clientelista ou desinteressado. Acredita-se, no entanto, que a melhoria da qualidade de vida, a redução do analfabetismo e ampliação do debate político devem ser pontos e investimento estatal para gerar um amadurecimento e uma conscientização do eleitor.