O brasileiro tem sido levado a testar seus valores e convicções constantemente nos nossos dias. A cada novo escândalo, a cada nova decepção, as pessoas se veem obrigadas a levantar questões antes quase que proibidas de serem faladas em voz alta. Se, por um lado, temos uma clara evolução, com operações como a Lava-Jato passando a limpo a corrupção no país, por outro, é clara a distância que ainda temos que percorrer para amadurecermos como sociedade.
O culto à personalidade leva certos grupos a relevarem qualquer coisa na defesa do status quo. Levantam objeções vazias ao que é simplesmente o devido processo legal. Mas respeitar a lei e responder pelos próprios atos e decisões não deveria ser normal? Como alguém pode ser contra um princípio tão básico de uma sociedade democrática? Esse movimento de tentar tornar alguém intocável coloca em perspectiva a existência que alguns se veem acima da lei e, por consequência, da sociedade. Cria-se, portanto, a crença de que setores poderiam escolher as leis que desejam seguir.
Essa ideia, de fato, não está desamparada nos fatos. Quantas vezes vimos invasões de terra e atos públicos de vandalismo que foram assistidos impotentemente por ordens que blindavam qualquer reação? Quantas vezes a idade ou condição social (para cima ou para baixo) evitou que delitos fossem punidos? E como seria diferente para casos de corrupção? Esse Brasil, contudo, não pode mais existir. É esse ambiente institucional deturpado que nos impede de crescer como país e atingir nosso potencial como indivíduos.
A Operação Lava-Jato evitou que a corrupção sistêmica se tornasse endêmica no Brasil. Nos deu uma oportunidade de enfrentar um problema amplo, redefinindo o que é normal ou aceitável. Temos que repensar a relação da sociedade com a lei, protegendo-a do se uso abusivo e banalizações. Tornando-a mais clara, objetiva e geral, sem distinção de sujeito.
A Lei é, então, um instrumento de defesa da liberdade e não, de coerção do Estado. Quando conseguirmos definir normalidade assim, teremos o real Império da Lei no Brasil.