A temática da exposição que marca a nova fase da Fundação Iberê Camargo busca instigar uma reflexão importante que está em total sintonia com o momento que vivemos em nosso país.
As dúvidas sobre o presente e a ansiedade quanto aos possíveis desdobramentos e a forma que o Brasil terá no futuro geram sentimentos controversos. O otimismo advindo da percepção de que problemas crônicos estão sendo finalmente e frontalmente abordados, com uma depuração ético e moral de instituições fundamentais, mistura-se com o desânimo consequente da antes inimaginável extensão do problema e do volume obsceno dos valores envolvidos.
É difícil aceitar que o cenário talvez precise piorar ainda mais para conseguirmos passar por esse processo. É muito provável que ao menos mais um presidente caia e descobertas traumáticas de casos de corrupção e desvios continuem sendo colecionadas para que possamos entender a real dimensão do problema e, também, da necessidade de transformação que a sociedade deve promover.
O fim, portanto, não é de tudo, mas apenas de um ciclo. O instinto de sobrevivência e a própria natureza da ação humana podem nos levar a querer deixar tudo para trás na busca de uma realidade melhor, especialmente em um tempo onde o futuro é carregado de incertezas. Esse é, contudo, o nosso país. O que virá depois do fim depende essencialmente da postura que nós, como sociedade, adotaremos. Promoveremos as reformas de que o Brasil precisa para ser viável e se tornar uma terra de oportunidades, onde as pessoas possam sonhar com um futuro melhor? Estamos prontos para admitir que o Estado não detém o monopólio do bem e que precisa ser urgentemente reduzido, devolvendo a liberdade e a responsabilidade sobre as nossas decisões para cada um de nós?
Independentemente do tamanho dessa crise, o Brasil tem conseguido contê-la nos limites da sua Constituição, evitando as rupturas que se observam em tantos outros países. Temos boas reservas e contamos com o sempre latente desejo que os investidores internacionais têm de aportar capital no país. Se o futuro não é certo, é cheio de potencial. Temos que construir agora o que encontraremos depois do fim.