Merece atenção e reflexão o pronunciamento feito pelo general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, na cerimônia que condecorou o juiz Sergio Moro com a Ordem do Mérito Militar. Na presença do presidente Michel Temer, o general criticou duramente a classe política do país ao se referir aos "incontáveis escândalos de corrupção" e à crise moral, mas advertiu que, para equacioná-la, "não há atalhos fora da Constituição".
Num discurso recheado de simbolismos, o general Villas Boas abordou também o colapso da segurança pública e atribuiu a "uma irresponsável aversão ao exercício da autoridade" o comportamento transgressor e a intolerância desagregadora de vários setores da sociedade. Finalmente, lembrou que a gravidade do momento não pode servir de pretexto para disputas paralisantes.
Ainda que pareça uma contradição a entrega da mesma medalha com que Moro foi agraciado a parlamentares suspeitos de envolvimento em ilicitudes, o pronunciamento forte do militar deu um tom de austeridade à celebração do 19 de abril, que é a data oficial do Exército devido à Batalha dos Guararapes, de 1648, contra a presença holandesa em Pernambuco.
Por mais indignados que estejam com a política, os brasileiros não podem cair na armadilha do messianismo e das soluções de força, que já resultaram em catastrofismo no passado recente do país. Tem razão o comandante do Exército quando critica a imoralidade da política, mas tem mais razão ainda quando lembra que a saída para a crise só pode ser encontrada no ordenamento constitucional.
A democracia é um caminho construído por todos – e não pode ter atalhos autoritários.