Em que pese atravessarmos uma crise política de desdobramentos ainda imprevisíveis, vide os recentes episódios da Operação Lava-Jato, no lado econômico algumas boas notícias começam a evidenciar que talvez estejamos já saindo do fundo do poço da forte e longa recessão que o país atravessou.
Dependente do resultado das votações das reformas da Previdência e trabalhista, mesmo com um previsível esvaziamento de parte da previdenciária, com eventual enfraquecimento do ajuste fiscal no longo prazo, questões como inflação controlada e um dólar comportado possibilitaram uma mudança de estratégia do Banco Central na política monetária, onde o aceleramento da redução da taxa Selic é a novidade positiva.
Já criticamos neste espaço a timidez com que o Bacen vinha procedendo quando do início do ciclo de baixa da taxa oficial, que permanecera durante longo período em 14,25% ao ano, em especial devido à forte recessão e seu efeito desinflacionário, quando empresas reduziam sua demanda e produção e a população diminuía seu consumo em função da inflação e do desemprego.
O interessante é que a alteração das expectativas se deu de forma rápida; ao final de 2016 as previsões do mercado trabalhavam com uma inflação medida pelo IPCA para 2017 superior a 5%, alterando-se agora para abaixo do centro da meta de 4,5% ao ano, o que encorajou o Banco Central a acelerar a redução da taxa Selic, atualmente em 11,25%, devendo chegar próxima de 9% ao final de agosto e, a partir daí, ser monitorada. Embora parte do mercado aposte em uma Selic de 8,5% ao final de 2017, deve-se ter cautela.
A redução da taxa favorece um período de melhorias para o cenário econômico, pois, em especial no lado das empresas, reduz o custo de rolagem das dívidas, podendo aliviar os fluxos de caixa e criar uma dinâmica positiva, na medida em que há clara expectativa de retomada, ainda que lenta, do crescimento econômico. A recuperação das empresas é fundamental para, na sequência, trazer também o emprego de volta e, neste caso, a reforma trabalhista deve ajudar.
Não fosse o persistente risco político e os estragos gerados pela corrupção, o quadro econômico poderia ser considerado benigno. Por outro lado, esta retomada continuará dependente da estabilidade inflacionária e fiscal, que se conversam, para que se tenha um crescimento de longo prazo, onde o investimento será fundamental. Elevar a taxa de investimento é o grande desafio para os próximos anos, o que só virá com a recuperação da credibilidade do país, tão abalada nos últimos anos. Assim sendo, deixem o país trabalhar.