Sábado passado foi o dia da mentira. Sexta que vem é o dia da verdade. No calendário, sete de abril é o dia do jornalista, mas, na vida real, esta é uma data maior do que a simples comemoração de uma categoria de profissionais. Ainda mais em um mundo em que a verdade é constantemente ameaçada, de um lado pelas notícias falsas compartilhadas pela internet e, de outro, pela visão de governantes que adorariam uma imprensa e um povo subservientes. Donald Trump chegou a escrever cristalinamente no Twitter que "qualquer pesquisa negativa é uma notícia falsa". E até o presidente Michel Temer pediu recentemente que fatos sejam relatados "convenientemente".
Nestes tempos de realidade aumentada, inteligência artificial e conversas virtuais, eu sinto necessidade de coisas reais. Nada contra o avanço da tecnologia, mas tudo a favor da permanência da verdade, do autêntico, do acontecido. Este é o papel do jornalista, mesmo que não seja mais no papel. Jornalismo é uma atitude, uma crença, uma alma, e não um emprego. Não depende de plataforma, e sim de propósito e compromisso. E é nosso único refúgio quando a barbárie toma conta do cotidiano em forma de mentira, boato ou o jogo de esconde-esconde dos que preferem viver às sombras. O bom jornalista é um ponto de luz na escuridão.
Como publicitário que estudou jornalismo, me orgulho de trabalhar numa atividade que faz a roda da economia girar e garante a independência da imprensa. Mas, de agora em diante, cada um de nós, leitores, também precisa agir para isso. Cada vez mais o jornalismo vai existir para que um público interessado em informação, opinião e análise continue recebendo isso de forma independente, isenta e frequente. O que sempre teve valor intangível agora também precisa ter valor monetário, porque precisamos manter viva e forte esta trincheira moral e crítica que é o jornalismo íntegro, aquele que luta incessantemente para nos contar a verdade, seja ela qual for e esteja onde estiver. Assinar um jornal é colocar seu nome em um abaixo-assinado da democracia.
Claro que a imprensa erra, e pela natureza do seu ofício, este erro é imperdoável, porque sepulta reputações, iniciativas, méritos ou carreiras. Mas, se a verdade for um valor inegociável em uma sociedade, a imprensa será obrigada a depurar seus excessos, aprimorar seus controles internos e fiscalizar os seus pares. Os que não têm medo do jornalismo livre devem ser os primeiros a ajudá-lo, criticando-o quando for o caso, sem jamais desejar moldá-lo ou acorrentá-lo. O preço da liberdade é a vigilância, não o aprisionamento.
Bento XVI disse: "Quando se trata da verdade não negocio um milímetro". Sejamos todos assim. Entre o dia da mentira e o dia do jornalista, lembremos que o segundo pode acabar com a primeira. Ontem, hoje, amanhã e sempre.