O tema abordado pela 30ª edição do Fórum da Liberdade, o Futuro da Democracia, é muito mais que apenas uma discussão teórica para os brasileiros. A percepção de como o nosso modelo de democracia favoreceu a corrupção e nos trouxe à recessão atual gerou um interesse cada vez maior por algo que costumava ser distante.
A democracia é uma das instituições chave que permitiram o desenvolvimento da civilização ocidental, e sua definição não se limita a eleições periódicas. No Brasil, o movimento de reaproximação entre sociedade e processo político abriu espaço para debates que permitem evoluirmos como país. O próprio processo eleitoral precisa ser revisto. Enquanto não adotarmos um modelo distrital ou distrital misto, tanto o acompanhamento pela sociedade, quanto a prestação de contas dos representantes ficam prejudicados. A obrigatoriedade do voto combina-se ao quadro, coagindo pessoas desinteressadas às urnas e baixando, assim, a qualidade média do voto.
Enquanto o número de partidos perdura como o grande vilão do processo, os reais problemas passam despercebidos. A distribuição dos representantes entre os Estados ilustra bem o ponto. Os limites mínimo e máximo de deputados acabam por criar cidadãos super-representados em detrimento de outros. Se somarmos, por exemplo, as populações do Acre, Amapá e Roraima e buscarmos uma representação proporcional, chegamos a cinco deputados. Hoje, são 24. São Paulo, seguindo essa lógica, tem um déficit de 40 representantes no Legislativo. Há ainda a centralização de impostos e decisões em Brasília, afastando-as da vida e influência do cidadão comum, as coligações partidárias, o financiamento público das campanhas, a intervenção desmedida na vida das pessoas e uma estrutura voltada para a garantia de privilégios, e o resultado não pode ser diferente do que vivemos nos últimos anos.
Estamos passando por uma rara oportunidade de avançar em debates e reformas fundamentais. O Futuro da Democracia é, afinal, o próprio futuro do Brasil.