Liderada por organizações sindicais e por movimentos sociais, a greve geral não se resumiu ao "fracasso", como a definiu o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, pois afetou a vida de milhares de brasileiros nas principais cidades. Deixou também mensagens importantes para os governantes e para a população. Ao Planalto, o recado claro é de que as consequências não chegam a ser significativas para a votação da reforma da Previdência, incerta até agora. O efeito junto à população também é questionável, a partir do momento em que uma paralisação em defesa dos trabalhadores precisa recorrer a tantas estratégias condenáveis para impedi-los de trabalhar. A todos, indistintamente, fica o recado de que é preciso uma melhor compreensão das reformas em debate e sobre as razões pelas quais o país tem urgência em implementá-las.
Independentemente das motivações de quem saiu às ruas nessa sexta-feira – seja para trabalhar, para cumprir com suas rotinas ou para protestar –, o certo é que cada vez mais brasileiros vêm sendo impactados pela crise. O termômetro mais evidente disso foi a divulgação, no mesmo dia, de que o número de desempregados ultrapassou os 14 milhões. A crise inquieta a todos, mas o que ajuda a entender melhor os excessos das manifestações é o inconformismo de quem teme perder privilégios e direitos com as reformas.
Entre outras mudanças com as quais acenam, a reforma trabalhista encolhe os repasses financeiros para centrais sindicais e a previdenciária reduz vantagens de servidores. Ainda assim, é impossível ignorar que o país precisa agir para resolver o drama dos desempregados e também o de 40% dos trabalhadores que atuam no mercado informal, privados de direitos essenciais.
Não é a primeira vez que mobilizações justificadas como em defesa dos trabalhadores acabam resvalando para os transtornos causados por bloqueios de rodovias, depredações e descontinuidade no transporte coletivo. Mesmo não se mostrando incomuns, porém, são atos inaceitáveis, pois prejudicam milhares de pessoas e acabam se sobrepondo ao propósito da manifestação.
Ainda assim, o importante é o recado que fica para o governo e para os representantes políticos: a população precisa ser melhor esclarecida para entender as mudanças que estão sendo propostas, sem se deixar iludir por quem apenas se opõe sem apresentar soluções para o país.