Sobre o populismo, como conceito, nada é claro e preciso.
Há diversas descrições do fenômeno.
Tem-se referências e menções as mais diversas.
Há exageros, incompreensões, preconceitos e suposições ideológicas.
Parece ser um pseudoconceito acessível pela intuição e pelos sentimentos.
Não se tem, ainda, uma abordagem racional e confiável.
[Será que a teremos?]
Os movimentos populistas, na história, não permitem identificar um parâmetro comparativo.
Alexandre Dorna, na falta de definição teórica, procura arrola alguns indicadores:
- Líder carismático;
- Apelo ao povo, com o abandono de programas partidários e tirando proveito da dimensão afetiva;
- Atitude antielitista, com a denúncia do distanciamento entre governantes e governados;
- Discurso de rejeição ao cosmopolitismo e à economia liberal, com ataques à injustiça social, à insegurança, ao desemprego e à imigração;
- Movimento de massa dirigido à comunidade nacional desencantada;
- Posição de ruptura com o sistema e exigência política de referendos populares;
- Invocação de virtudes inatas do povo, inocente e manipulável.
Na verdade, o debate não se produziu.
Os detratores do populismo não lhe dão uma teoria política.
Preferem denegrir e agredir.
Identificam-no com uma primeira fase do totalitarismo.
De outra parte, os partidários do populismo nada formulam de coerente.
Exaltamos o princípio da soberania popular - participação eleitoral, eleições gerais, vontade do povo, etc.
Mas, ao mesmo tempo, execramos o populismo!
É um paradoxo a analisar.
Parece haver duas formas de ser próximo ao "povo".
Uma, má.
Outra, elogiável.
Aquela é qualificada de populista.
Esta – a boa – é o quê?
O problema é identificar o que significa a palavra "povo".
Refere-se a um dado da realidade?
Ou, é uma categoria política?
Se há populismo de esquerda e de direita, cada um tem seu próprio "povo".
Qual o "povo" de cada um?
É indagação problemática.
O certo é que não há certezas.
Resta-nos um conforto, com Bertrand Russel: "O problema do mundo de hoje é que... as pessoas idiotas estão cheias de certezas...".
Artigo
Nelson Jobim: populismo 2
Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: