Com satisfação, ao ler os jornais da manhã, verifico que a Assembléia, por larga maioria, começou a aprovar o tão execrado "pacotão do Sartori", que tem sido hostilizado por todos os meios de comunicação, a começar por boletins colados no piso das calçadas.
O "pacote", pelo que se sabe, visa a sanear as demolidas finanças do Estado, que já não permitiam sequer pagar com alguma pontualidade o funcionalismo. Em princípio, esse propósito só poderia merecer aplausos, com a única restrição de ter tido uma gestação demorada.
Em vinte anos de jornalismo opinativo, nunca fui opositor sistemático, mas sempre me abstive de elogiar governantes. Neste ponto, seguia o conselho de um velho jornalista que era secretário de redação: - "Se alguma vez elogias a figura, mais adiante ele comete alguma asneira e ficas comprometido!"
Abro hoje uma exceção, (justamente por não ter mais responsabilidades no jornalismo de opinião), para elogiar o Governador José Ivo Sartori, pela sua coragem de enfrentar oposição extremada de corporações e até de poderes de estado, ao propor medidas de saneamento financeiro e de reorganização administrativa que implicam uma verdadeira virada na filosofia de governar. Se ainda não é a implantação do "estado mínimo", sonhado pelos liberais, é pelo menos a busca de um estado aplicado às suas tarefas essenciais, de assegurar segurança pública, justiça, saúde coletiva e educação popular, abandonando preocupações que seriam muito legítimas numa situação de prosperidade econômica e financeira, mas não em épocas de calamidade. Estímulo à cultura, pesquisa científica, proteção às artes são tarefas que nobilitam qualquer governo, mas que podem ser postergadas em "tempo de vacas magras", como este que agora atravessa o Rio Grande do Sul.
Fomos vítimas de sucessivos governantes populistas, sobretudo preocupados em perpetuar seus partidos no poder e de agradar corporações funcionais numerosas e eventualmente poderosas. O populismo é um desvio frequente nas repúblicas sul-americanas, caracterizado por cortejar segmentos da sociedade em detrimento do seu todo, pelo imediatismo dos resultados, sem a visão de "longo prazo", e pelo desprezo ao que possa ocorrer depois de findo o mandato. O "depois de nós, o dilúvio", atribuído à Madame Pompadour para o rei Luís 15, teve seguidores fieis no Rio Grande do Sul...
Sartori está "fazendo o dever de casa", sem preocupações de reeleição e de consagração popular. Está praticando o que mais se espera de um bom governante: a coragem de mudar.