O Natal de Deus na história dos homens mudou o curso, decurso e percurso da história, o destino do homem, o sentido do universo. Ninguém mais está solitário. Deus armou sua cabana no meio de nós! "Entre nós armou sua tenda e nós vimos sua glória e da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça" (Jo 1,14.16). Ninguém ficou de fora, mesmo sem saber. Nada pode escapar de seu amor. "O tempo foi fecundado pelo eterno e os atos humanos ganharam uma significação decisiva: nos fatos se constrói a salvação ou a perdição da vida", diz o frade escritor Regis Daher. Cada gesto, a partir de Cristo, tem um tempero e uma semente de eternidade.
Como Deus amou assim o mundo, pudera cada um de nós amar de maneira nova e sublime. Pudéssemos olhar o mundo com outros olhos, novas lentes, tais quais os sobreviventes do triste desastre chapecoense. Suas declarações são pensamentos que nos fazem pensar na vida e em nosso destino, como num novo recomeço de tudo. Se pudéssemos unir as nações numa corrente do bem, da paz, de solidariedade e do amor! Se cada ser humano pudesse ser amado de maneira criativa, renovadora, nos pequenos momentos que podem ser eternos e sacramentais, como o recomeço do amanhecer! Olhar assim a vida com olhos diferentes. Ver os problemas como se não fossem únicos e intransponíveis.
Deus não veio nascer entre os homens somente para lhes dar um novo alento, diante dos grandes desafios do imprevisível destino. Deus veio para nos salvar da tragédia que pode se tornar a nossa vida, se pensarmos somente em nós mesmos. Deus não quer salvar simplesmente alguns, para enxergar a vida com novo olhar, mas a todos, em nossos apuros, angústias, tristezas e aflições. Veio não somente para chorar com os que choram, mas enxugar toda a lágrima desse planeta azulado. Como promete o Apocalipse: "Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima; não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porquanto a antiga ordem está encerrada! ...Eis que faço novas todas as coisas!" (Apc 21,4-5). Ainda é tempo de plantar. Ainda é tempo de amar. Ainda pode ser Natal, pois o verdadeiro amor habitou e continuará habitando entre nós!