Dois comerciais natalinos estão passando na tevê. Similares, abordam o mesmo tema: divórcio. Em um, a menina faz um teatro de marionetes na noite de natal. O assunto, claro, é a separação de seus pais. Na cena que ela constrói, eles estão representados como rei e rainha e contam um com o outro apesar de tudo. Fora da cena, comovidos, mãe e pai confirmam a ideia de que continuam para sempre os melhores amigos.
No outro, um casal se separa depois de muita briga. A casa da família é posta à venda e, na noite de Natal, a mulher volta a ela. O cenário denota o abandono do imóvel e a tristeza da mulher. Ela caminha pelo pátio até encontrar o ex-marido deitado no fundo da piscina vazia. Ao final, ela vai se deitar com ele.
Dois comerciais comunicativos e românticos com certa superficialidade, mas não o suficiente para deixar de expressar, muito além do sentido de Natal, qual o sentido de uma arte.
A arte vem para imaginar a vida que não existe e, por isso, é insuficiente. Ou para tomar a vida que existe e melhorá-la a partir da nossa capacidade de imaginar. Dessa forma, com a sua forma, a arte ajuda a suportar a vida como ela é, reinventando-a como poderia ser. Para René Diatkine, essa capacidade é a mais importante de uma saúde mental. Para Freud e Nietzsche, ao fim e ao cabo de suas obras, fica a ideia de que sem arte não há salvação.
Nada muito diferente de qualquer menina que brinca de ser mãe da boneca (ela que ainda não pode ser mãe de verdade) ou de qualquer menino que faz de conta que é Super-herói (ele que se sente super fraco diante de sua pequenez). Os comerciais, apesar do apelo e pragmatismo, brincam de que não existe entre adultos recém-separados os frequentes ressentimento e remorso.
Sem arte não tem solução. Com arte também não, mas não parece. E, brincando com ela, um dia a gente cresce e pode encontrar alternativas até mesmo para os casos aparentemente insolúveis. Afinal, a vida surpreende e, às vezes, imita a arte.