Diante da banalização do uso de viaturas como celas para suprir a falta de locais em presídios e delegacias, reduzindo ainda mais o que restava de policiamento ostensivo nas ruas, o governo estadual anunciou ontem a intenção de construir dois centros de triagem para presos provisórios. Essa, porém, é uma providência que não tem como esperar pelos trâmites normais da burocracia estatal, responsável em boa parte pela falência do sistema prisional. Enquanto o poder público não sair desta inércia, que fere a lei e os direitos elementares de cidadãos sob sua custódia, dificilmente a população se sentirá segura.
O veto ao uso de porta-malas de camburões que deveriam estar circulando para reduzir um pouco mais a sensação de insegurança é uma questão emergencial, mas o caos dos presídios não tem como perdurar, por mais que se avolumem as explicações de ordem financeira do setor público. É inadmissível que um Estado cada vez mais subjugado pelo avanço da criminalidade continue convivendo com um déficit de no mínimo 10 mil vagas para prisioneiros e com o Presídio Central interditado para novos presos.
Independentemente da adoção de providências que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo, é mais do que hora de o Estado rever quem precisa de fato estar nos presídios ou poderia estar cumprindo outro tipo de pena. Ações desse tipo não ajudariam a atenuar a situação de quem vem sendo mantido em camburões na frente de delegacias superlotadas – todos envolvidos em crimes de maior gravidade. Ainda assim, demonstrariam pelo menos a determinação do poder público de enfrentar a questão de forma ampla.