Difícil saber se o mais estarrecedor nesse episódio do cancelamento de benefícios do INSS por irregularidades é o descontrole do Instituto ou a fragilidade moral de beneficiários que se aproveitavam da omissão oficial para continuar recebendo indevidamente. Em pouco mais de um mês de trabalho, a força-tarefa do INSS analisou 10.894 auxílios-doença e cancelou 8.442 por suspeita ou constatação de irregularidades. A operação pente-fino examinou a situação de beneficiários que não passavam por perícia havia dois anos e cancelou 80% dos auxílios-doença analisados. Nesse contingente de irregularidades havia segurados que voltaram a trabalhar sem renunciar ao recebimento do benefício e até mesmo pessoas que sequer contribuíram para a Previdência, mas conquistaram a filiação pela via judicial.
Infelizmente, muitos brasileiros ainda se aproveitam das deficiências gerenciais e da negligência da administração pública para levar vantagem, sem considerar que os recursos desviados acabam fazendo falta no custeio de áreas essenciais para toda a população. Essa cultura da fraude, facilmente constatável em qualquer programa social mal administrado, explica por que o país atingiu patamares inaceitáveis de corrupção.
Há casos verdadeiramente estarrecedores, segundo o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, como o de mulheres que obtiveram licença remunerada por causa da gravidez e anos depois, já com o filho crescido, continuavam recebendo o benefício. Até se pode concluir que a falha maior é do sistema, que é generoso para distribuir o dinheiro de todos e incompetente para fiscalizar a correta aplicação dos recursos. Mas a falsa esperteza de alguns indivíduos só agrava o problema.