Em artigo assinado no jornal Folha de S. Paulo, o ex-presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma ampla defesa de sua biografia, atribuindo as investigações de que é alvo a adversários políticos, à ignorância dos investigadores sobre o funcionamento de um governo de coalizão, a campanhas midiáticas e aos inimigos do projeto político implantado pelo PT, segundo ele voltado para um Brasil mais justo, com oportunidade para todos. É um texto bem escrito e que coincide com a intensificação dos rumores sobre sua prisão. Faltou, porém, uma menção mais incisiva às roubalheiras do mensalão e da Petrobras, que não são invenções dos inimigos de seu partido.
Na tentativa de se defender, e em seu contínuo processo de se apresentar como vítima, o ex-presidente prefere atacar instituições e sequer admite a proximidade com empreiteiros amigos. Se não reconhece sequer essa obviedade, que dirá admitir a culpa. Os próprios operadores das falcatruas vêm confessando seus crimes, denunciando o envolvimento de políticos e até devolvendo parte dos recursos desviados.
Foi no governo de Lula e de sua sucessora que tais irregularidades se acentuaram e adquiriram dimensões jamais vistas no país. Mesmo insistindo em ver o mundo pela ótica do complô, o fato é que o ex-presidente já foi denunciado três vezes desde o início da Lava-Jato, tornando-se réu em Curitiba e em Brasília por suspeitas de crimes que vão desde lavagem de dinheiro até corrupção ativa e passiva, além de tráfico de influência e tentativa de obstrução da Justiça.
É bom que o ex-presidente Lula ocupe espaços na mídia para se defender, o que contribui para desmentir sua tese de que os grandes veículos de comunicação estão contra ele. Mas também é essencial que apresente à Justiça argumentos mais sólidos do que um artigo bem redigido.