As notícias da educação não são boas. A cada dois anos, o Ministério da Educação escancara a realidade do ensino brasileiro divulgando o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que estabelece médias de rendimento dos estudantes do país, dos Estados, dos municípios e por escolas. As médias de 2015 são insuficientes – no Ensino Médio, o pior resultado em matemática desde 2005 e estagnação em português. Nos dois ciclos do ensino fundamental, houve leve avanço.
A piora em matemática assusta muito, pois essa disciplina é essencial para áreas como engenharia e tecnologia, decisivas para o desenvolvimento do país. De acordo com o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o resultado obtido pelos estudantes brasileiros em matemática classifica-os como incapazes de fazer cálculos simples de probabilidade. E menos de 9% deles escapam desta sentença ao fracasso exatamente no período de formação decisivo para o encaminhamento à vida acadêmica ou ao exercício de uma atividade profissional.
A barreira da matemática é a maior evidência de que o ensino brasileiro precisa de reformas urgentes, que incluam desde a revisão da grade homogênea de matérias do Ensino Médio até a formação de professores, passando pela escola de tempo integral e pela disseminação de experiências diferenciadas. Nesta semana mesmo, ganhou destaque na imprensa um projeto de uma escola pública de Minas Gerais, pelo qual os professores visitam as famílias da comunidade escolar para resgatar estudantes faltosos ou que abandonam a escola. Trata-se de uma ação simples, com efeito poderoso na redução da evasão e da repetência.
A reforma do Ensino Médio, já em tramitação no Congresso, é apenas um passo na longa caminhada que o Brasil precisa fazer para qualificar o seu sistema educacional. Mais importante do que as alterações legislativas, porém, é mudar a cultura: não podemos mais aceitar como verdade uma expressão cunhada para degradar ainda mais o ensino público, pela qual "o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende". Na maioria dos casos, não é verdade. Os professores públicos, muitas vezes mal pagos e trabalhando em condições precárias, se esforçam muito para ensinar, e a maioria dos alunos oriundos da parcela mais carente da população vai para a escola exatamente para buscar uma alternativa de ascensão social.
O Ideb mostra que não estamos alcançando esses objetivos – o que nos deixa na obrigação de trabalhar ainda mais para atingi-los. Em educação, toda má notícia tem que ser encarada como bom desafio.