Os dias corriam, em trote lento, quando se arranchou em Soledade o padre Ludovico Borghesi. Os pecados estavam em banho-maria à espera de uma alma sacramenta que lhes viesse conceder perdão e penitência. O padre caiu na cidade qual bergamota no pátio do recreio. Era um gringo buona gente, contente de ter nascido. O Capitão Caraguatá, anticlerical de boa cepa, estabanava dizeres: "Não se deve dar trela pra essa gente que tempera churrasco em gamela". À bem da verdade, nem bem os sinos repicavam, a igreja botava gente até na sacristia. O salão enfeitava-se de bandeiras para as jantarocas paroquiais.
Em matéria de castidade, Padre Ludovico ia muito além dos mandamentos do Senhor. A moçada quando vinha fazer uma boca no salão paroquial levava seus discos de vinil. Nas férias, o filho do vice-prefeito apareceu com discos de um tal de Lupicínio. Padre Ludovico ficou de orelha em pé. Não era música apropriada pra ganhar guarida no ouvido das moças donzelas. A las tantas, a voz do Jamelão soltou: "De dia me lava roupa, de noite me beija a boca". O cura sentiu que não era fácil por freio no potro arredio da sensualidade. Mas o diabo faz a panela, mas não faz a tampa. Fim de festa, solito no más, munido de um canivete, o padre raspou o disco, exatamente no giro das indecentes intimidades.
Pois foi num sábado de maio, após polentas e galetos, que deram-se os fatos até hoje alcançados por cima dos muros. Após tarantelas e pudicas canções, muchachos e prendas se puseram a ouvir e cantarolar o tal Se acaso você chegasse. Quando os anjos se distraem, o diabo toma dianteira. Gira o samba amoroso e safado, quando a agulha bailou nas curvas fatais do disco de vinil, para espanto e riso geral se fez ouvir: "De dia me lava roupa... de noite Fuc! Fuc! Fuc! Fuc! Fuc!". Padre Ludovico deu com os burros n'água. De mãos erguidas aos céus, bradava: "Mama Mia, Porca la Miseria!". A moçada, embalada em cantorias, clamava pelo padre Ludovico: "Amigo, boleia perna, puxe o banco e vá sentando...".